sexta-feira, 31 de outubro de 2008

PIN: Para Reflectir



LPN ataca “regime PIN”


A construção de um empreendimento turístico em Altura, Castro Marim, levou ao abate de uma vasta área de pinhal na Praia Verde. O projecto assenta num PIN – Potencial Interesse Nacional. A Liga para a Protecção da Natureza não poupa críticas ao Governo. A figura PIN criada pelo actual Governo atropela toda e qualquer lei de ordenamento do território com base num critério, o volume de investimento. “Ultrapassada determinada fasquia, há luz verde, quase como que por decreto-régio, para o que quer que seja”, comenta a LPN. E reforça: “Na prática, trata-se de uma «venda», neste caso, uma destruição da coerência territorial em termos de ordenamento, a retalho”. Este abate de árvores na zona criou, diz liga, “um cenário dantesco”. O empreendimento é “perfeitamente legal, mas talvez não legítimo, com a respectiva «palmadinha nas costas» que um PIN representa, arrasou parcialmente uma mancha de pinhal que, em tempos, constituiu o ex-libris da Praia Verde” considera a liga. “Não se pretende, de modo algum, «demonizar» este empreendimento, mas sim alertar para o modelo que se perpetua e, pior, se incentiva com a política PIN”, alerta a LPN, considerando que “num Estado de Direito sério, é impensável a ultrapassagem do edifício legislativo nacional pelo mero acenar de milhões. Não podemos crer numa tal «sul-americanização»”. A LPN defende que turismo e preservação ecológica “não são antagonistas, mas carecem da aplicação de modelos que os conciliem e harmonizem, não de facilitismos e irresponsabilidade”, deixando a questão: “será possível que os tiros no pé do turismo algarvio (e nacional) não conheçam um fim?”.



OBS: Foto introduzida, de minha responsabilidade.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Magalhães, Tintin e Boris Ieltsin





Cá para mim o nosso adorado e idolatrado Primeiro Ministro encetou hoje a campanha de marketing que irá lançar a nossa master piece da tecnologia nacional(?) junto mercado francófono, ao declarar que o nosso Magalhães (sim, porque estamos a falar do objecto de culto nacional, que nos enfuna os peitos de orgulho patriótico!!!), nome do circum-navegador e herói de referência português, é como o Tintin (aquele da Milú, a cadela, não a Ministra da Educação ...) herói da banda desenhada de origem belga, criada por Hergé e afirmou a língua francesa naquela arte.

Temos que reconhecer que foi um golpe de mestre, que apenas podia vir de uma mente superior como a do nosso incompreendido Primeiro Ministro, esta de oferecer um Magalhães/Tintin a cada um dos representantes dos Estados que participaram na Cimeira Ibero-Americana de S. Salvador, à qual não esteve presente o Presidente Hugo Chávez, proprietário de 1.000.001 Magalhães/Tintin, que alegou motivos de segurança, ou a falta dela, para não ir à cimeira.


E com razão. Já viram o perigo que correram os presentes, chefes de Estado e afins, perante a hipótese de todos, em simultâneo, desatassem a atirar com o Magalhães/Tintin pelos ares, à semelhança do absentista, para testar a sua resistência? Um perigo eminente de decapitação do mundo ibero-americano. Pelo menos.

Agora, e como o nosso Primeiro Ministro, tal como o criador, não dorme, já está delineada a estratégia de assalto aos mercados da Commonwealth, comparando o Magalhães/Tintin ao agente secreto de Sua Majestade, James Bond, e ao mercado de Leste, comparando-o com Boris Ieltsin, que, modéstia à parte, tirando o vodka, são a cara um do outro, principalmente nos crashes do sistema de processamento.

Numa coisa, pelo menos, o Magalhães e o Tintin também são parecidos: o Magalhães (o computador, claro), não tem cabelo ...

Porque Será?



SEM COMENTÁRIOS!!!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Da Coerência ou da Falta Dela





Transcrevi um texto de uma Carta Aberta ao Primeiro Ministro José Sócrates, e recebi um comentário com o seguinte teor:


a.j.cartaxo cachaco disse...


Puro sectarismo!!!Talvez por estas e por outras é que F.Caeiros cortou!!! Só um funcionário do partido ( pagam-lhe) pode ser tão odiento!!! Por isso os 10% não sobem e outros vão subindo!!!Senhor J.N.S. retire essa forma vernácula de fazer politica!!!Pensei que estava a dialogar com verdadeiro democrata mas não , voltamos à forma do antes 25 ABRIL agora noutro quadrante. Continui a espalhar a sua verrobeia e assi m o P.C.P vai sendo desacreditado ,infelizmente!!!


29 de Outubro de 2008 11:21"


Nada de anormal se, acusando-me de recorrer a verrobeia(?), num texto que nem sequer era meu, não "verborreasse" no sentido de afirmar que eu seria pago para, sectariamente, atacar o PS, colocando-me na posição de funcionário do PCP.


Acontece que, nem recebo nem sou funcionário do PCP, embora pudesse ser que, de forma legal, ambas as coisas fossem verdadeiras.


Nada de anormal também, não se desse o caso de a mesma pessoa ter escrito no Feira de Castro, por ocasião da reactivação temporária daquele blog, o seguinte comentário:


"quarta-feira, 15 de Outubro de 2008, 12:37:33 antonio j. cartaxo cachaço


Porquê só neste período ? Penso que tudo o seja, noticiar, alvitrar, criticar, serve os interesses dum Povo!!! Quem não sabe aceitar criticas, não está a servir o Povo!!!" Se todos gostássemos do verde, não havia necessidade de haver outras cores". Já que é difícil dar sugestões verbais, algumas de interesse da População à que aproveitar todos os espaços de comunicação. Um Povo sem o deixarem ouvir, faz-nos lembrar outros tempos. Para tal também é preciso " cultura da verdade" e não utilizarem o partilhar informação para ofensas pessoais, ou até levantar calunias infundadas !!! O povo precisa de saber que há muitas cabeças que sabem pensar!!!



Curioso como é que uma liberdade individual tão importante, como é a de criticar e alvitrar, em menos de 15 dias passou à categoria de lançamento de verborreia sectária a soldo de um partido contra outro.


E mais, como é que se criticava a utilização de espaços de discussão para ofender ou caluniar infundadamente, para agora, 15 dias depois, vir fazer o discurso que fez, adjectivando-me de "odiento" pelo que escrevo e pelo que penso..


Ambos os comentários estão dispor do público.


Quanto ao democrata, Sr Cachaço, a democracia não é um rótulo que pespega nas costas de quem se quer e a seu belo prazer. A democracia pratica-se, e, desculpe-me a franqueza, com a publicação de todos os comentários ao que escrevo e publico, sejam eles a favor, contra, ofensivos ou não à minha pessoa, creio já ter dado bem mais demonstrações de democracia que o senhor, pelo que dispenso lições de moral serôdias e bafientas.



Passe bem

A Crise do Capitalismo

Da autoria de j.L Guerriro, do blog Alvitrando, in http://alvitrando.blogs.sapo.pt/, transcreve-se um texto muito actual e com uma análise lúcida acerca da crise do capitalismo que actualmente se vive a nível global. A escolha e colocação da foto é de minha responsabilidade.





A crise do capitalismo


O capitalismo está a atravessar a sua, talvez, maior crise. Por mais que tentem disfarçar, por mais que tentem justificar com o tom, mais ou menos liberal, o que está realmente em causa é o sistema capitalista.
Ainda é cedo para se falar no seu fim. Não vamos cair na tentação fácil em que os seus defensores caíram ao decretar o fim do comunismo, perante os desaires das experiências socialistas na ex-URSS e respectivo bloco.
O capitalismo tem, ao longo da sua história, mostrado uma enorme capacidade de adaptação às novas situações.
Nesta perspectiva, podemos dizer que aquelas experiências socialistas constituíram, durante mais de meio século, o seu seguro de vida. O capitalismo foi obrigado a criar o “estado social” para responder aos avanços civilizacionais, nas áreas sociais, da educação, da cultura e outras, conseguidos por aquelas experiências socialistas.
Com elas quem mais beneficiou foram os povos dos países capitalistas, porque sem este confronto ideológico e de poder jamais o capitalismo teria sido tão condescendente, porque ele se caracteriza, em última análise, pela exploração desenfreada do homem (que mais não tem do que os seus braços e cérebro) pelo homem (detentor do poder).
O que, hoje, está, verdadeiramente, em causa é o sistema capitalista. Não se trata apenas de apurar se o mercado tudo resolve, se o capitalismo deve ser mais ou menos liberal, se precisa de mais ou menos regulação. Está demonstrado que os mecanismos de regulação que criou estão ao serviço dos que deviam ser controlados. O capitalismo não tem regras nem princípios e recorre, sempre que necessário, aos métodos que diz abominar para tentar sobreviver.
As nacionalizações e as intervenções dos Estados em grandes empresas financeiras falidas e os acordos de adversários políticos (Mcain e Obama) mais não são do que tentativas para salvar o sistema capitalista.
O capitalismo serve-se de todas as habilidades para servir os interesses dos capitalistas, usando como exército os que ambicionam sê-lo, ludibriando-os, fazendo-os crer que tal é possível.
Há quem se esforce por explicar o indemonstrável. Mário Soares, sempre que fala sobre a situação mundial, fala em crise financeira, económica, social, ambiental, mas quando aborda a situação no nosso país, faz a apologia do governo como se este estivesse a resolver todos os problemas, não só os nossos mas também os causados pela crise internacional.
Em vez de assumir a sua (e do seu partido) incapacidade (ou falta de vontade) de pôr em prática o que diz defender, insiste em mistificar a realidade, em defender a governação do seu partido por mais injusta que seja, como tem sido, e em tentar mostrar que está de um lado da barricada quando, na prática, está do outro.
O que, de facto, distingue a esquerda da direita, não é o método, o regime democrático ou autoritário, por mais importante que seja e é, mas o fim que se pretende alcançar, o sistema socialista ou capitalista.
Enquanto esteve em causa o combate ao fascismo e a defesa do regime democrático foi possível gerar amplos consensos e grandes frentes de luta. Quando a opção a fazer passou a ser capitalismo ou socialismo muitos democratas recuaram e optaram pelo capitalismo, ou seja, pela exploração do homem pelo homem, embora alguns tivessem e tenham genuínas preocupações sociais.
Mas o problema não se resolve com mais ou menos preocupações mas sim com acções. E, quando se chega aqui, alguns ficam-se pelas preocupações como forma de afagarem as suas (más) consciências…
Chegados aqui, o que importa apurar é se o capitalismo ainda é capaz de se regenerar e vencer mais esta crise, se o socialismo é capaz de mostrar que as experiências realizadas falharam não por terem seguido os princípios fundadores do marxismo mas por os terem desrespeitado, ou, se existe uma qualquer outra via, que não as terceiras, de Blair e outros.
São as ideologias, a que alguns prematuramente decretaram o fim, que voltam a estar na ordem do dia.
Alvito, 29 de Setembro de 2008

Publicado da Revista Mais Alentejo, nº 86

domingo, 26 de outubro de 2008

Carta Aberta a José Sócrates

Seguidamente pubica-se uma carta aberta a José Sócrates, encontrada no blog Planície Heróica, in http://planicie-heroica.weblog.com.pt/, que, com a devida vénia se transcreve

As fotos foram escolhida por mim, pelo que a sua responsabilidade é toda minha.
É um texto longo, mas que vale a pena ler até ao fim:


"Carta a Sócrates
Circula por e-mail, desde 12 deste mês, uma carta de uma mãe dirigida ao primeiro-ministro. Consideramo-la fundamental. E mais não dizemos.


Sr. Engº José Sócrates,

Antes de mais, peço desculpa por não o tratar por Excelência nem por
Primeiro-Ministro, mas, para ser franca, tenho muitas dúvidas quanto
ao facto de o senhor ser excelente e, de resto, o cargo de
primeiro-ministro parece-me, neste momento, muito pouco dignificado.

Também queria avisá-lo de antemão que esta carta vai ser longa, mas
penso que não haverá problema para si, já que você é do tempo em que o
ensino do Português exigia grandes e profundas leituras. Ainda pensei
em escrever tudo por tópicos e com abreviaturas, mas julgo que lhe faz
bem recordar o prazer de ler um texto bem escrito, com princípio, meio
e fim, e que, quiçá, o faça reflectir (passe a falta de modéstia).

Gostaria de começar por lhe falar do 'Magalhães'. Não sobre os erros
ortográficos, porque a respeito disso já o seu assessor deve ter
recebido um e-mail meu. Queria falar-lhe da gratuitidade, da
inconsequência, da precipitação e da leviandade com que o senhor
engenheiro anunciou e pôs em prática o projecto a que chama de
e-escolinha.

O senhor fala em Plano Tecnológico e, de facto, eu tenho visto a
tecnologia, mas ainda não vi plano nenhum. Senão, vejamos a cronologia
dos factos associados ao projecto 'Magalhães':


No princípio do mês de Agosto, o senhor engenheiro apareceu na
televisão a anunciar o projecto e-escolinhas e a sua ferramenta: o
portátil Magalhães.

No dia 18 de Setembro (quinta-feira) ao fim do dia, o meu filho traz
na mochila um papel dirigido aos encarregados de educação, com apenas
quatro linhas de texto informando que o 'Magalhães' é um projecto do
Governo e que, dependendo do escalão de IRS, o seu custo pode variar
entre os zero e os 50 euros. Mais nada! Seguia-se um formulário com
espaço para dados como nome do aluno, nome do encarregado de educação,
escola, concelho, etc. e, por fim, a oportunidade de assinalar, com
uma cruzinha, se pretendemos ou não adquirir o 'Magalhães'.

No dia 22 de Setembro (segunda-feira), ao fim do dia, o meu filho
traz um novo papel, desta vez uma extensa carta a anunciar a visita,
no dia seguinte, do primeiro-ministro para entregar os primeiros
'Magalhães' na EB1 Padre Manuel de Castro. Novamente uma explicação
respeitante aos escalões do IRS e ao custo dos portáteis.

No dia 23 de Setembro (terça-feira), o meu filho não traz mais
papéis, traz um 'Magalhães' debaixo do braço.

Ora, como é fácil de ver, tudo aconteceu num espaço de três dias úteis
em que as famílias não tiveram oportunidade de obter esclarecimentos
sobre a futura utilização e utilidade do 'Magalhães'. Às perguntas que
colocámos à professora sobre o assunto, ela não soube responder.
Reunião de esclarecimento, nunca houve nenhuma.

Portanto, explique-me, senhor engenheiro: o que é que o seu Governo
pensou para o 'Magalhães'? Que planos tem para o integrar nas aulas?
Como vai articular o seu uso com as matérias leccionadas? Sabe, é que
50 euros talvez seja pouco para se gastar numa ferramenta de trabalho,
mas, decididamente, e na minha opinião, é demasiado para se gastar num
brinquedo. Por favor, senhor engenheiro, não me obrigue a concluir que
acabei de pagar por uma inutilidade, um capricho seu, uma manobra de
campanha eleitoral, um espectáculo de fogo de artifício do qual só
sobra fumo e o fedor intoxicante da pólvora.

Seja honesto com os portugueses e admita que não tem plano nenhum.
Admita que fez tudo tão à pressa que nem teve tempo de esclarecer as
escolas e os professores. E não venha agora dizer-me que cabe aos pais
aproveitarem esta maravilhosa oportunidade que o Governo lhes deu e
ensinarem os filhos a lidar com as novas tecnologias. O seu projecto
chama-se e-escolinha, não se chama e-familiazinha! Faça-lhe jus!
Ponha a sua equipa a trabalhar, mexa-se, credibilize as suas iniciativas!
Uma coisa curiosa, senhor engenheiro, é que tudo parece conspirar a
seu favor nesta sua lamentável obra de empobrecimento do ensino
assente em medidas gratuitas.

Há dias arrisquei-me a ver um episódio completo da série Morangos com
Açúcar. Por coincidência, apanhei precisamente o primeiro episódio da
nova série que significa, na ficção, o primeiro dia de aulas daquela
miudagem. Ora, nesse primeiro dia de aulas, os alunos conheceram a sua
professora de matemática e o seu professor de português. As imagens
sucediam-se alternando a aula de apresentação de matemática por
contraposição à de português. Enquanto a professora de matemática
escrevia do quadro os pressupostos da sua metodologia - disciplina,
rigor e trabalho - o professor de português escrevia no quadro os
pressupostos da sua - emoção, entrega e trabalho. Ora, o que me faz
espécie, senhor engenheiro, é que a personagem da professora de
matemática é maldosa, agressiva e antiquada, enquanto que o professor
de português é um tipo moderno e bué de fixe. Então, de acordo com os
princípios do raciocínio lógico, se a professora de matemática é
maldosa e agressiva e os seus pressupostos são disciplina e rigor,
então a disciplina e o rigor são coisas negativas. Por outro lado, se
o professor de português é bué de fixe, então os pressupostos da
emoção e da entrega são perfeitos. E de facto era o que se via.
Enquanto que na aula de matemática os alunos bufavam, entediados, na
aula de português sorriam, entusiasmados.

Disciplina e rigor aparecem, assim, como conceitos inconciliáveis com
emoção e entrega, e isto é a maior barbaridade que eu já vi na minha
vida. Digo-o eu, senhor engenheiro, que tenho uma profissão que vive
das emoções, mas onde o rigor é 'obstinado', como dizem os poetas. Eu
já percebi que o ensino dos dias de hoje não sabe conciliar estes dois
lados do trabalho. E, não o sabendo, optou por deixar de lado a
disciplina e o rigor. Os professores são obrigados a acreditar que
para se fazer um texto criativo não se pode estar preocupado com os
erros ortográficos. E que para se saber fazer uma operação aritmética
não se pode estar preocupado com a exactidão do seu resultado. Era o
que faltava, senhor engenheiro!

Agora é o momento em que o senhor engenheiro diz de si para si: mas
esta mulher é um Velho do Restelo, que não percebe que os tempos
mudaram e que o ensino tem que se adaptar a essas mudanças? Percebo,
senhor engenheiro. Então não percebo? Mas acontece que o que o senhor
engenheiro está a fazer não é adaptar o ensino às mudanças, você está
a esvaziá-lo de sentido e de propósitos. Adaptar o ensino seria afinar
as metodologias por forma a torná-las mais cativantes aos olhos de uma
geração inquieta e voltada para o imediato. Mas nunca diminuir, nunca
desvalorizar, nunca reduzir ao básico, nunca baixar a bitola até ao
nível da mediocridade.

Mas, por falar em Velho do Restelo...

Li, há dias, numa entrevista com uma professora de Literatura
Portuguesa, que o episódio do Velho do Restelo foi excluído do estudo
d'Os Lusíadas. Curioso, porque este era o episódio que punha tudo em
causa, que questionava, que analisava por outra perspectiva, que é
algo que as crianças e adolescentes de hoje em dia estão pouco
habituados a fazer. Sabem contrariar, é certo, mas não sabem
questionar. São coisas bem diferentes: contrariar tem o seu quê de
gratuito; questionar tem tudo de filosófico. Para contrariar, basta
bater o pé. Para questionar, é preciso pensar.

Tenho pena, porque no meu tempo (que não é um tempo assim tão
distante), o episódio do Velho do Restelo, juntamente com os de Inês
de Castro e da Ilha dos Amores, era o que mais apaixonava e empolgava
a turma. Eram três episódios marcantes, que quebravam a monotonia do
discurso de engrandecimento da nação e que, por isso, tinham o mérito
de conseguir que os alunos tivessem curiosidade em descodificar as
suas figuras de estilo e desbravar o hermetismo da linguagem. Ainda
hoje me lembro exactamente da aula em que começámos a ler o episódio
de Inês de castro e lembro-me das palavras da professora Lídia,
espicaçando-nos, estimulando-nos, obrigando-nos a pensar. E foi há 20 anos.
Bem sei que vivemos numa era em que a imagem se sobrepõe à palavra,
mas veja só alguns versos do episódio de Inês de Castro, veja que
perfeita e inequívoca imagem eles compõem:

'Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano d'alma ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito (...)'

Feche os olhos, senhor engenheiro, vá lá, feche os olhos. Não consegue
ver, perfeitamente desenhado e com uma nitidez absoluta, o rosto
branco e delicado de Inês de Castro, os seus longos cabelos soltos
pelas costas, o corpo adolescente, as mãos investidas num qualquer
bordado, o pensamento distante, vagueando em delícias proibidas no
leito do príncipe? Não vê os seus olhos que de vez em quando escapam
às linhas do bordado e vão demorar-se na janela, inquietos de saudade,
à espera de ver D. Pedro surgir a galope na linha do horizonte? E
agora, se se concentrar bem, não vê uma nuvem negra a pairar sobre
ela, não vê o prenúncio do sangue a escorrer-lhe pelos fios de cabelo?
Não consegue ver tudo isto apenas nestes quatro versos?

Pois eu acho estes quatro versos belíssimos, de uma simplicidade
arrebatadora, de uma clareza inesperada. É poesia, senhor engenheiro,
é poesia! Da mais nobre, grandiosa e magnífica que temos na nossa
História. Não ouse menosprezá-la. Não incite ninguém a desrespeitá-la.
Bem, admito que me perdi em divagações em torno da Inês de Castro. O
que eu queria mesmo era tentar perceber porque carga de água o Velho
do Restelo desapareceu assim. Será precisamente por estimular a
diferença de opiniões, por duvidar, por condenar? Sabe, não tarda
muito, o episódio da Ilha dos Amores será também excluído dos
conteúdos programáticos por 'alegado teor pornográfico' e o de Inês de
Castro igualmente, por 'incitamento ao adultério e ao desrespeito pela
autoridade'.

Como é, senhor engenheiro? Voltamos ao tempo do 'lápix' azul?

E já agora, voltando à questão do rigor e da disciplina, da entrega e
da emoção: o senhor engenheiro tem ideia de quanta entrega e de quanta
emoção Luís de Camões depôs na sua obra? E, por outro lado, o senhor
engenheiro duvida da disciplina e do rigor necessários à sua
concretização? São centenas e centenas de páginas, em dezenas de
capítulos e incontáveis estrofes com a mesma métrica, o mesmo tipo de
rima, cada palavra escolhida a dedo... o que implicou tudo isto senão
uma carga infinita de disciplina e rigor?

Senhor engenheiro José Sócrates: vejo que acabo de confiar o meu
filho ao sistema de ensino onde o senhor montou a sua barraca de circo
e não me apetece nada vê-lo transformar-se num palhaço. Bem, também
não quero ser injusta consigo. A verdade é que as coisas já começaram
a descarrilar há alguns anos, mas também é verdade que você está a
sobrealimentar o crime, com um tirinho aqui, uma facadinha ali, uma
desonestidade acolá.

Lembro-me bem da época em que fiz a minha recruta como jornalista e
das muitas vezes em que fui cobrir cerimónias e eventos em que você
participava. Na altura, o senhor engenheiro era Secretário de Estado
do Ambiente e andava com a ministra Elisa Ferreira por esse Portugal
fora, a inaugurar ETAR's e a selar aterros. Também o vi a plantar
árvores, com as suas próprias mãos. E é por isso que me dói que agora,
mais de dez anos depois, você esteja a dar cabo das nossas sementes e
a tornar estéreis os solos que deveriam ser férteis.

Sabe, é que eu tenho grandes sonhos para o meu filho. Não, não me
refiro ao sonho de que ele seja doutor ou engenheiro. Falo do sonho de
que ele respeite as ciências, tenha apreço pelas artes, almeje a
sabedoria e valorize o trabalho. Porque é isso que eu espero da
escola. O resto é comigo.

Acho graça agora a ouvir os professores dizerem sistematicamente aos
pais que a família deve dar continuidade, em casa, ao trabalho que a
escola faz com as crianças. Bem, se assim fosse eu teria que ensinar o
meu filho a atirar com cadeiras à cabeça dos outros e a escrever as
redacções em linguagem de sms. Não. Para mim, é o contrário: a escola
é que deve dar continuidade ao trabalho que eu faço com o meu filho.
Acho que se anda a sobrevalorizar o papel da escola. No meu tempo, a
escola tinha apenas a função de ensinar e fazia-o com competência e
rigor. Mas nos dias que correm, em que os pais não têm tempo nem
disposição para educar os filhos, exige-se à escola que forme o seu
carácter e ocupe todo o seu tempo livre. Só que infelizmente ela tem
cumprido muito mal esse papel.

A escola do meu tempo foi uma boa escola. Hoje, toda a gente sabe que
a minha geração é uma geração de empreendedores, de gente criativa e
com capacidade iniciativa, que arrisca, que aposta, que ambiciona. E
não é disso que o país precisa? Bem sei que apanhámos os bons ventos
da adesão à União Europeia e dos fundos e apoios que daí advieram, mas
isso por si só não bastaria, não acha? E é de facto curioso: tirando o
Marco cigano, que abandonou a escola muito cedo, e a Fatinha que
andava sempre com ranhoca no nariz e tinha que tomar conta de três
irmãos mais novos, todos os meus colegas da primária fizeram alguma
coisa pela vida. Até a Paulinha, que era filha da empregada (no meu
tempo dizia-se empregada e não auxiliar de acção educativa, mas,
curiosamente, o respeito por elas era maior), apesar de se ter ficado
pelo 9º ano, não descansou enquanto não abriu o seu próprio Pão Quente
e a ele se dedicou com afinco e empenho. E, no entanto, levámos
reguadas por não sabermos de cor as principais culturas das
ex-colónias e éramos sujeitos a humilhação pública por cada erro
ortográfico. Traumatizados? Huuummm... não me parece. Na verdade,
senhor engenheiro, tenho um respeito e uma paixão pela escola tais
que, se tivesse tempo e dinheiro, passaria o resto da minha vida a estudar.
Às vezes dá-me para imaginar as suas conversas com os seus filhos (nem
sei bem se tem um ou dois filhos...) e pergunto-me se também é válido
para eles o caos que o senhor engenheiro anda a instalar por aí.

Parece que estou a ver o seu filho a dizer-lhe: ó pai, estou com
dificuldade em resolver este sistema de três equações a três
incógnitas... dás-me uma ajuda? E depois, vejo-o a si a responder com
a sua voz de homilia de domingo: não faz mal, filho... sabes escrever
o teu nome completo, não sabes? Então não te preocupes, é
perfeitamente suficiente...

Vendo as coisas assim, não lhe parece criminoso o que você anda a fazer?
E depois, custa-me que você apareça em praça pública acompanhado da
sua Ministra da Educação, que anda sempre com aquele ar de infeliz, de
quem comeu e não gostou, ambos com o discurso hipócrita do mérito dos
professores e do sucesso dos alunos, apoiados em estatísticas cuja
real interpretação, à luz das mudanças que você operou, nos apresenta
uma monstruosa obscenidade. Ofende-me, sabe? Ofende-me por me tomar
por estúpida.
Aliás, a sua Ministra da Educação é uma das figuras mais
desconcertantes que eu já vi na minha vida. De cada vez que ela fala,
tenho a sensação que está a orar na missa de sétimo dia do sistema de
ensino e que o que os seus olhos verdadeiramente dizem aos pais deste
Portugal é apenas 'os meus sentidos pêsames'.

Não me pesa a consciência por estar a escrever-lhe esta carta. Sabe, é
que eu não votei em si para primeiro-ministro, portanto estou à
vontade. Eu votei em branco. Mas, alto lá! Antes que você peça ao seu
assessor para lhe fazer um discurso sobre o afastamento dos jovens da
política, lembre-se, senhor engenheiro: o voto em branco não é o voto
da indiferença, é o voto da insatisfação! Mas, porque vos é
conveniente, o voto em branco é contabilizado, indiscriminadamente,
com o voto nulo, que é aquele em que os alienados desenham macaquinhos
e escrevem obscenidades.

Você, senhor engenheiro, está a arriscar-se demasiado. Portugal está
prestes a marcar-lhe uma falta a vermelho no livro de ponto. Ah...
espere lá... as faltas a vermelho acabaram... agora já não há castigos...
Bem, não me vou estender mais, até porque já estou cansada de repetir
'senhor engenheiro para cá', 'senhor engenheiro para lá'. É que o meu
marido também é engenheiro e tenho receio de lhe ganhar cisma.
Esta carta não chegará até si. Vou partilhá-la apenas e só com os meus
E-leitores (sim, sim, eu também tenho os meus eleitores) e talvez só
por causa disso eu já consiga hoje dormir melhor. Quanto a si, tenho dúvidas.

Para terminar, tenho um enorme prazer em dedicar-lhe, aqui, uma
estrofe do episódio do Velho do Restelo. Para que não caia no
esquecimento. Nem no seu, nem no nosso.

'A que novos desastres determinas
De levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
De ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias? '


Atenciosamente e ao abrigo do artigo nº 37 da Constituição da República Portuguesa,
Uma mãe preocupada

Nota: o artigo 37º é sobre a liberdade de expressão e de informação."

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

PIDDAC - Castro Verde Contínua a Zeros

Já são conhecidos os montantes do PIDDAC - Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central, para 2009.



Para todo o Distrito de Beja são destinados cerca de 72 milhões de euros, distribuídos pelos diversos concelhos, que vão receber montantes dos 240 € (Alvito) até 1.440.000 € (Beja).


São menos 20 milhões de euros que a Administração Central investe num dos distritos mais atrasados do país e do espaço comunitário.


Seria bom saber o que diz a distrital do Partido Socialista acerca deste facto.




Castro Verde continua a a receber 0-ZERO-0.


Seria curioso saber o que pensa disto a concelhia do Partido Socialista.


Porque o resultado imediato disto é a total ausência de investimento da Administração Central neste concelho, que, por mais um ano fica fora do rateio, mais parecendo que não faz parte do país.

E isto talvez legitime, de forma cabal, a opção política de uns Municípios optarem por reduzir as taxas de IRS e outros não.

Já agora, seria bom que os alentejanos, e os castrenses, não se esquecessem destas atitude do PS no momento em que, por 3 vezes distintas, forem votar no próximo ano.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Cavandela: Mudei de Ideia



Referi, num post recente que não voltaria a falar na Cavandela, no projecto, deixando para o futuro o que o futuro trouxesse, de bom ou de mau.

Entretanto, foi-me aconselhado que desse uma "volta" pelo sitio da Câmara Municipal de Castro Verde, na pasta do Ordenamento do Território, e nos documentos do Plano de Pormenor da Cavandela, e que lê-se os documentos que lá constam.
Dou-vos o mesmo conselho. Basta irem a este endereço:


Chega-se claramente a esta conclusão:

Todos os alertas que tenho feito, seja neste blog, seja no Feira de Castro, são assumidos e apoiados e confirmados por diversas entidades que integram o Conselho de Opinião, sendo de salientar os alertas lançados pela Região de Turismo e pela Liga da Protecção da natureza, designadamente quanto às questões da água, das superfícies dos campos de golf, a gestão da água da Albufeira da Rocha, e, ainda, as questões levantadas relativamente à criação de postos de trabalho, entre 750 e 2250, designadamente quanto à quantidade e qualificação da oferta local, o que, claramente levará a uma pressão demográfica apreciável.

São questões que devem ser cabalmente esclarecidas, para além de ser um dever da entidade promotora vir a terreno esclarecer como pretende financiar, e dizer que garantias dá de que esse financiamento suportará a globalidade do projecto.

A falha do financiamento de um projecto desta envergadura poderá significar que, daqui por 30 anos, um qualquer Primeiro-Ministro venha carregar no botão que active a implosão dos esqueletos porventura inacabados por falta de meios, dando lugar a outro mega-negócio de um qualquer grande grupo económico.

Note-se que, um projecto desta dimensão, apenas faz sentido na sua plenitude, com o conjunto de valências projectadas, correndo o risco de, a falta de alguma ou algumas, por em causa a sua viabilidade.

Penso que os castrenses merecem um esclarecimento acerca do motivo da não localização da Cavandela - Sociedade Imobiliária, Lda em Castro Verde, à semelhança do que aconteceu com a Somincor, permitindo que os impostos sobre os lucros gerados pelo empreendimento (?)revertessem para o Concelho que o acolherá (?) ?

Estes são os motivos porque decidi mudar de ideia e não me calar acerca da Cavandela.

Empreendimento na Cavandela, sim, mas com responsabilidade para com os castrenses e para com a gerações futuras.

Se, porventura, estas dúvidas assentam por falta de informação retida seja lá por quem for, então libertem essa informação, e esclareçam de uma vez por todas os munícipes.
E, já agora, alguém informe o povo das contrapartidas que o Município eventualmente terá que dar à entidade promotora, porque, para qualquer investimento deste montante, se fosse a nível nacional, implicaria contrapartidas por parte do Governo, o que leva a crer que as haverá por parte da autarquia.
Ou estarei enganado?




terça-feira, 21 de outubro de 2008

Afinal...



Afinal ... parece que a força com que apareceram alguns blogs, próximos do PS-Castro Verde, foi a mesma com que se quedaram no ponto de partida.




Aqui, há dias noticiou-se o auspicioso aparecimento de 4-quatro-4 blogs sedeados em Castro Verde, com uma nítida proximidade ao Partido Socialista de Castro Verde.


Até se comentou que, com mais esta poderosa ajuada, o PS passava para a dianteira da divulgação cibernáutica em Castro Verde.

Parece que afinal assim não é, dado que os novos blogs deixaram de ter actividade.

Será porque houve alguns comentários não alinhados com a respectiva filosofia.
Ou será que os índices estatisticos nacionais estão de tal maneira miseráveis que não é muito conveniente falar nos "êxitos" governamentais?

Aguardam-se novos desenvolvimentos.


Já agora: sabem porque é que os efeitos da crise não afectaram Portugal na mesma medida que afectaram os outros países da Europa? Porque, pura e simplesmente, já estamos na bancarrota há, pelo menos, 7 anos, desde que alguém fugiu por um pântano fora até ... Nova Iorque.

Ainda se lembram dele?

E dos seus Ministros? Lembram-se de algum em particular?




segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Castro Verde: «Cavandela» " um projecto para avançar"

“Cavandela” é o nome de um projecto turístico, de investimento privado, previsto para Castro Verde. A "Cavandela" conta com um investimento de 500 milhões de euros e contempla duas vertentes: turística e empresarial.
O presidente da Câmara Municipal de Castro Verde, assegurou no programa da Voz da Planície “Preto no Branco” que "o projecto turístico «Cavandela» é para avançar" e que "a construção do mesmo poderá começar em 2009". Nas suas palavras "a «Cavandela» tem duas componentes: turística e empresarial". Disse também que "este empreendimento compreende cinco mil camas e dois campos de golfe, entre unidades de alojamento turístico e dois hotéis". Francisco Duarte revelou ainda que "o investimento é de 500 milhões de euros, valor a suportar por capitais privados".

De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Castro Verde "os projectos de construção da «Cavandela» devem ficar concluídos até ao final de 2009".

Comentário


Eu já não faço mais comentários acerca deste assunto.


O futuro dirá se, felizmente, não tenho razão, e tratará, em caso contrário, de apontar os responsáveis pelo que vier a acontecer.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

FANTÁSTICO!!!

No dia em acreditei mesmo a sério que estamos em crise financeira global, porque a mesma só hoje foi anunciada na Suiça.



No dia em que o Governo português fez aprovar na Assembleia da República, com votos do PS, PSD e CDS, abstenção de Manuel Alegre, e votos contra de PCP, BE e Verdes, uma lei vaga que entrega, nas mãos dos banqueiros que ajudaram a cavar a dita crise, o destino de 20 mil milhões de euros do nosso erário.



No dia em que os cereais atingem o preço mais baixo desde alguns anos a esta parte.



O Ministro da Agricultura de Portugal preocupa-se a regulamentar o uso de galheteiros nos restaurantes, tascas e similares.



Só mesmo em Portugal.



Há ministros que só mesmo à galheta.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Feira de Castro 2008


Aí está a edição 2008da Feira de Castro, a maior feira do Sul, centenária e majestosa, ponto de encontro entre gentes de todos o país.


Em jeito de comemoração, vais ser re-activado o Blog Feira de CAstro, http://feiradecastro.blogs.sapo.pt/, até Domingo, após o que voltará a hibernar.


até lá, podem ir ao local fazer os comentários qaprouver a cada um, sem censuras (como é hábito) e sem constrangimentos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Indecências, Obscenidade e Pornografia

As teorias neo-liberais vieram defender a omissão do Estado no mercado, seja qual for: todo e qualquer mercado.

E, sob a a batuta do Sr. Bush, o Estado Norte-Americano foi fazendo o geitinho aos detentores do grande capital, designadamente os banqueiros e accionistas das casas de crédito, e desregulamentaram tudo o que havia a regulamentado, e que servia de meio de controlo do tesouro sobre a actividade bancária.

Deste lado do Atlântico, os seguidores do Sr. Bush, devem ter pensado: se aquilo com os "américas" resulta, aqui também deve render qualquer coisita, e vá de retirar o controlo do Estado sob a economia e a actividade financeira.

Entretanto, os off-shores foram nascendo como cogumelos, para onde foram canalizadas as mais-valias resultantes da especulação e da exploração que os bancos foram IMPUNEMENTE praticando.

E, para gerar mais lucro, nada melhor que inflacionar os bens que justificam os pedidos de crédito: o imobiliário.

Resultado, as garantias reais, ou sejam, os imóveis adquiridos com o crédito concedido "à barba longa", não valem os montantes que supostamente deveriam garantir. Daí existirem casas à venda abaixo do preço de custo, em diversos países, a começar pela nossa vizinha Espanha.

Como consequência, diversas casas que se dedicavam ao negócio da compra e venda de dinheiro, entraram em risco de falência, obrigando o Estado Norte-Americano a intervir.

Isto é de loucos, mas o governo americano fez aquilo que sempre condenou, e acusou de proteccionismo os Estados que o praticavam, e interveio fortemente no mercado financeiro, pasme-se, nacionalizando entidades financeiras, que passaram a ser controladas pelo Tesouro, o famoso FED.

Argumento do Sr. Bush: garantimos os depósitos dos clientes e a subsistências das entidades, e futuramente, serão privatizadas, se calhar com algum lucro.

Isto ainda foi mais escandaloso.

Do lado de cá do Atlântico, começaram a soar campainhas quando os governos belga e holandês decidiram seguir o mesmo caminho, e os liberais entraram em pânico.

Vá de reunir o G7, puxar as orelhitas ao Sr. Bush, dizer para não voltar a fazer coisas dessas, próprias do Vasco Gonçalves, esse perigoso comunista, e não de um presidente americano, ainda por cima republicano.

Plano Europeu: os Governos não injectam dinheiro nos bancos, ou seja, não os nacionalizam. Antes, preferem dar garantias, avales para empréstimos inter-bancários, que garantam a liquidez no sistema bancário.

Na prática, isto significa que, até determinado montante, os bancos centrais garantem perante as entidades de crédito, os empréstimos que estas efectuarem aos bancos das respectivas praças, pelo que, se algum banco falir, quem pagará estes empréstimos será o Governo do respectivo país.

Portugal não estava representado no G7. Não tem dimensão para isso, por muito que Sócrates se estique, e milhões de Magalhães que distribua.

Mas alinhou no plano: 20 mil milhões de euros em garantias bancárias para os bancos portugueses poderem comprar dinheiro no estrangeiro.

Para quê?

Para usarem como muito bem entenderem, porque nada foi determinado quanto à utilização deste dinheiro, pelo que poderá entrar no ciclo vicioso que gerou esta crise, nomeadamente, para empréstimos de mais casas de alto valor que, na realidade, não valem metade daquilo porque são adquiridas.

Não chegavam já as taxas de juro preferenciais que beneficiavam fortemente os bancos.

O indecente, no meio disto tudo, é que são os nossos impostos, os da classe média, que avançam nestas jogadas.

O indecente, é que ainda ninguém foi chamado à liça por causa desta crise.

O indecente é ninguém ter mandado investigar onde foram empatados os dinheiros dos clientes dos bancos.

O indecente, é as entidade que concedem crédito fácil, entrem VIOLENTAMENTE pelas casas de cada consumidor, desejoso de ter o mínimo que a sociedade de consumo lhe proporciona, e agarra as "ofertas" exploradoras que lhe são feitas enquanto está sentado no seu sofá.

O indecente é o Estado ter deixado de regular os mercados, e ter desregulamentado o que já existia, tudo em nome do lucro e da sagrada mão invisível do Sr. Adam Smith.

O indecente, é nós termos que levar com eles e nada fazer, até novas eleições, quando poderá mudar a cara, mas a merda continuar a ser a mesma.

Isto é tudo tão indecente, que quase chega a raiar a obscenidade e a pornografia.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

6 Meses Depois...

Pois é.



Chegámos a Outubro e, em Castro Verde, reina um silêncio sepulcral acerca de dois assuntos que parece estarem adormecidos mas, pelo menos para mim, não estão esquecidos.

Calhando, o silêncio é para não os acordar, ou melhor, para não despertar consciências acerca dos ditos.

Refiro-me, em concreto ao Inquérito efectuado à população de Castro Verde, que ainda ninguém sabe no que é que deram nem a que conclusões permitiu chegar.



E, o outro, a Cavandela, assunto apenas tocado com alguma frequência pelo Manuel António Domingos, nomeadamente acerca das vicissitudes do site do promotor.

Pergunta: ainda é o mesmo? O capital social é mesmo?
Outra pergunta: Com a actual situação nos mercados mobiliário e imobiliário, e de profundo crash financeiro global, a coisa ainda vai para a frente?

Mais: será que ainda vão conseguir o crédito necessário para avançar, ou pretendem começar a coisa apenas com os 5.000,00€ do capital social da E3Propreties.

Da minha parte, e antes de qualquer resposta, que obviamente não vou ter, apenas aconselho cautelas às entidades oficiais envolvidas, porque a coisa não está de feição a certos negócios.

Á parte disso, peço desculpa por ter levantado essas questões, que não devem ser entendidas como qualquer manifestação de bota-abaixismo.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Os Passos Perdidos da Esquerda


Devido ao conteúdo, à importância e a actualidade do tema, transcrevo aqui, na íntegra, e com a devida vénia, este texto de Lopes Guerreiro, disponível no seu blogue Alvitrando, in http://alvitrando.blogs.sapo.pt/.


A imagem foi escolhida e introduzida por mim.


Os passos perdidos da esquerda

Os últimos tempos têm sido férteis nas mais diversas declarações proferidas pelas mais diversas personalidades sobre a crise causada pela economia de casino.
É interessante verificar que poucos, ainda, se atrevem a pôr em causa o sistema capitalista e que, quase todos, insistem na sua defesa, limitando-se a apontar eventuais causas para esta nova crise.
É interessante, ainda, verificar que entre os defensores do capitalismo aparecem muitos que se diziam (alguns ainda dizem, de vez em quando) de esquerda e socialistas.
Os que inventaram o socialismo democrático, como Mário Soares, e que se têm fartado de falar em democracia, nada ou muito pouco fizeram para que esta integrasse também no seu conteúdo as componentes económica e social.
Esqueceram-se do patriotismo quando, em 1975, pediram a intervenção dos Estados Unidos da América e conspiraram com a CIA contra a Revolução de Abril.
Hoje, mostram-se indignados com o neo-liberalismo, responsabilizando-o pela crise que o capitalismo está a atravessar, preocupados com o futuro deste mas conformando-se com a sua inevitabilidade.
Os que lhes sucederam, assumiram a terceira via não como a procura de um sistema alternativo e mais justo mas como a melhor defesa do sistema capitalista.
A seguir vieram os defensores da esquerda moderna, como José Sócrates, a quem queima a boca a palavra socialismo e que acha que a esquerda se esgota na defesa das chamadas questões fracturantes.
Vemos assim que desde que Mário Soares meteu o socialismo na gaveta nem ele nem muito menos os que se lhe seguiram de lá o tiraram. Nem mesmo agora. E não é por acaso que mantêm o socialismo engavetado e se esforçam por falar o menos possível dele, é porque o não querem.
Foram inventando os vários eufemismos – socialismo democrático, terceira via, esquerda moderna –, para alimentar, nos que lutam a sério pelo socialismo, a ilusão de que aqueles eram os melhores caminhos ou vias para o construir.
Os que dizem defender o socialismo a sério ou real pouco mais têm feito do que assumir-se como contra-poder, tentando fazer passar a ideia de que basta ocupar o poder para tudo resolver, como se o tempo não tivesse já mostrado que não é bem assim.
Mas nem mesmo nessa perspectiva conseguiram construir uma política de alianças que permitisse alcançar o poder. Têm sido mais eficientes em acentuar clivagens e evidenciar divisões.
Combater nos terrenos e com as armas dos adversários costuma dar vantagem a estes, aos que estão instalados…
Não será desvalorizando as liberdades individuais e ostracizando os que queiram intervir através da reflexão, do debate de ideias e da procura de respostas novas para velhos problemas que a esquerda se afirmará.
A esquerda tem de pensar mais, tem de agir com mais eficácia, tem de arriscar e não se limitar a continuar a desempenhar os papéis que, no poder ou na oposição, lhes foram sendo distribuídos.
É doloroso ouvir “socialistas” defenderem o sistema capitalista, reclamando apenas, quando muito, um maior controlo do mercado, quando ouvimos o líder dos patrões, o presidente da CIP, dizer que não se importa que o Estado tenha um papel mais interventor na economia, dirigindo mais o investimento e controlando melhor a actividade privada.
Ao que havíamos de chegar! O grande empresariado a reclamar a intervenção do Estado e “socialistas” a defenderem o sistema capitalista como fim da história, quando até o ideólogo desta inevitabilidade histórica já a rejeitou.
Enfim, não é de admirar que os capitalistas e os apologistas do capitalismo se esforcem por desculpabilizar o sistema apontando culpas a alguns exageros e falta de auto-controle, como se este alguma vez pudesse ser eficaz.
O que é inadmissível é a triste figura que fazem líderes “socialistas”, ao serem mais papistas que o papa, ou seja, ao tentar defender o indefensável.
Esta triste realidade não é apenas mais uma das curiosidades portuguesas. É a realidade que caracteriza actualmente o movimento socialista e a esquerda em quase todo o mundo, mostrando-se, como escreveu José Saramago, incapaz de pensar, de agir e de arriscar um passo.
É neste quadro que alguns “ilustres socialistas alentejanos” se continuam a mover, a defender a falida “terceira via” e outros eufemismos do capitalismo, acreditando que essa é a melhor forma de “vender gato por lebre”.
Até quando as pessoas vão deixar-se ludibriar, atendendo ao local e imediato em detrimento do global e futuro? Até quando vão aceitar como dogmas e inevitabilidades históricas o que a vida se encarrega de mostrar rapidamente como insustentável?
Até lá a esquerda vai perdendo tempo e oportunidades e a “exploração do homem pelo homem” vai-se mantendo, num mundo que, embora nalguns casos mais próspero, é cada vez mais injusto e exclusivo.

Lido na Rádio Terra Mãe, em 8 de Outubro de 2008


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"Comércio Local, no Centro da Sua Vida"



Associação Comercial do Distrito de Beja, com a colaboração da Câmara Municipal de Castro Verde, e ao abrigo do Programa MODCOM Acção C, irá implementar acções de Animação, que visam a promoção comercial do centro urbano de Castro Verde sob o lema “Comércio Local, no centro da sua vida”.
Esta campanha, que irá decorrer no último trimestre de 2008, abrange a zona de intervenção definida anteriormente para o programa, nomeadamente, a Praça da República, Praça da Liberdade, Rua Morais Sarmento, Rua Fialho de Almeida, Rua de Aljustrel, Rua Alexandre Herculano e Rua da Feira.Para o próximo dia 2 de Outubro, no Fórum Municipal de Castro Verde, pelas 14.00 horas, está agendado um encontro com os comerciantes da zona de intervenção no qual se procederá à apresentação desta campanha, que terminará em Dezembro com as compras de Natal.


Comentário
Estive presente, e gostei da apresentação e da perspectiva dada da campanha que irá decorrer em Castro Verde.
De salientar, o forte apoio municipal para esta iniciativa, extremamente importante para o comércio de Castro Verde.

Partido Socialista Renova Imagem do Blogue em Castro Verde






O blogue do PS-Castro Verde tem imagem renovada.



Não sei bem há quanto tempo, porque não sei há quanto tempo por lá não passava, tal não era o marasmo que por ali grassava, em textos e ideias.



Uma coisa continua: nada de comentários.



Quem quiser lê mas não comenta, porque não pode.



PROIBIDA A ENTRADA A BOTA-ABAIXISTAS
em pscastroverde.blogs.sapo.pt/

E eu que só queria pedir para não chamarem comunistas, e dizer que são do PCP, à malta da Câmara e das Juntas, porque há por lá alguns que se podem sentir mesmo ofendidos. A sério.

É que apesar de eleitos pela CDU, como independentes, claro, alguns são mais adeptos de uma certa esquerda moderna, têm uma visão mais socraciana, ou socratina, da coisa ... não sei se me estão a entender.

Pronto. Quanto a isto estamos entendidos: ofender não vale!

Mas já se sente no ar o calor da luta que se avizinha. Aquecem-se os motores, e afinam-se as máquinas.

Pelo menos já têm alguma coisa a mais que os opositores mais directos: em matéria de comunicação PS-1 CDU-0
Isto para já não falar nos sediados na Rua das Giestas, que assim já são 5-0

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Mais blogs castrenses



Descobri hoje mais quatro blogs sediados em Castro Verde, assinados por Robert Owen (filósofo inglês do séc XVIII/XIX, impulsionador do socialismo utópico, e considerado pai do cooperativismo), e que passo a indicar:


castrogiestas.blogs.sapo.pt/

castro.verdade.blogs.sapo.pt/

vivercastro.blogs.sapo.pt/

castroerdev.blogs.sapo.pt/


Seja bem vindo à blogosfera castrense.

domingo, 5 de outubro de 2008

Sistema Político Partidário - Local

Mas não se pense que o encostar dos partidos, e do debate em que se de deve alicerçar a vida política, é um fenómeno nacional, e que Sócrates é um campeão.

Não. A nível local, verificam-se fenómenos semelhantes, e com aspectos mais caricatos.

Castro Verde é um paradigma.

Em Castro Verde, à excepção do Bloco de Esquerda que, por ser bastante recente, consegue manter uma estrutura política, minimamente activa, os outros partidos, ditos tradicionais, encostaram às boxes por força da aversão que o auto-suspenso Presidente da Câmara Fernando Caeiros nutre pelas lógicas partidárias, como ele próprio reconhece na recente entrevista à Mais Alentejo.

De facto, ao longo de mais de três décadas, conseguiu extrair todo o interesse que luta político-partidária pode gerar na comunidade, com tudo o de positivo que essa luta pode trazer para a evolução das ideias, designadamente, de desenvolvimento local.

Assim, desde há anos, convivemos com um Partido Socialista local que sobrevive com lideres locais de recurso, e se arrasta apoiado no seu eleitorado tradicional, e com um PSD numa situação ainda mais deplorável, com dificuldades manifestas em se afirmar como um partido consequente a nível local.

Quanto ao PCP, e esta é a componente tristemente caricata, por se tratar da força que sempre apoiou Fernando Caeiros, está relegado para uma situação de semi-clandistinidade, por força da verdadeira perseguição que sempre empreendeu aos seus militantes, vedando-lhes os acesso a trabalho no Município, não lhes concedendo as facilidades que notoriamente concedeu a pessoas de outros partidos ou sem adesão partidária.

Basta ver quantos militantes comunistas entraram por concurso para a Câmara Municipal de Castro Verde.

O mais estranho é que Caeiros andou ao colo do PCP, num sistema político que assenta, pelo menos formalmente, em partidos políticos, passou 30 anos a dar caneladas no PCP, e este nunca o deixou cair, antes pelo contrário, ainda o convidou e apoiou para cargos de destaque.

Diz-se por aí, que Évora é apenas uma paragem. Não sei o que se segue. Mas se for com o apoio do PCP, então começo a acreditar que os partidos são completamente dispensáveis nesta nos sociedade, nacional e local.

Sistema político e Partidário

Hoje faz anos a República, veneranda senhora de 98 anos, e que derrubou, ou antes, "abanou" a árvore donde pendia, apodrecido de maduro, o regime monárquico.

Passou por vicissitudes várias.

Os partidos da Primeira República, que emergiram da queda do anterior regime, dado que a sua inexistência era por demais óbvia, e aproveitando a luta árdua dos anarco-sindicalistas, depressa demonstraram o seu carácter repressivo sobre as classes trabalhadoras, muitas vezes com uma violência que atirava João Franco para o painel dos políticos mais brandos nesta matéria.

São nestes partidos republicanos que os Partido Socialista encontra as suas avoengas raízes, e que o actual Primeiro Ministro faz questão de honrar, pelo menos em matéria de retirada de direitos àqueles que nada mais possuem que a sua força de trabalho.

A esta Primeira República, sucede-se o período de quarenta e oito anos de uma ditadura retrógrada e rústica, que, à parte do seu carácter repressivo das suas instituições particulares e peculiares, atirou com este povo para o limbo da mediocridade no qual, ainda hoje, permanece embevecido com as suas pequeninas vitórias, como seja, ser possuidor do maior pepino do mundo, ou ter alcançado um meritório segundo lugar no Euro 2004.

Estes são exemplos de mediocridade, porque se entrarmos nos exemplos das tristezas nacionais, teremos que falar do ministro Pinho, e, aí, desatamos todos a chorar.

Isto tudo para quê?
Como já foi referido o Primeiro-Ministro do Partido Socialista, José Sócrates, faz jus às raízes que o seu partido invoca, e destrói desavergonhadamente o edifício que, ainda antes do 25 de Abril, a muito custo, com muitas lutas e repressão, se foi construindo em matéria de direitos laborais.

Como se tal não fosse suficiente, entretém-se, também, a destruir o sistema partidário, de raiz constitucional, que laboriosamente, e, diga-se em seu abono, os deputados da Constituinte, sabiamente construíram.

Sócrates conseguiu atirar a preponderância da actividade política-partidária para o caixote de lixo, com a mesma veleidade com destruiu o Serviço Nacional de Saúde ou a suplesse com que entrega um Magalhães (essa obra prima da tecnologia informática nacional, refugo das experiências efectuadas na Índia, mas que, graças, à excelente qualidade da nossa indústria de plásticos, parece que aguenta uma bomba), em Vilar de Maçada.

O seu próprio partido, o Partido Socialista, é um não-partido. É mais um clube restrito a quem o Primeiro Ministro, na falta de mais um coelho para tirar da cartola (do género, mais-600-metros-de-linha-de-metropolitano-por-500-milhões-de-euros-que-irão-reduzir-em-33-segundos-o-tempo-que-os-habitantes-de-Alfornelos-levarão-para-chegar-a-Lisboa, ufa!), reúne para se fazer ouvir num luxuriante discurso, de elevada componente tecnológica, que abrirá os noticiários da TV.

Hoje, a segunda muleta do sistema do rotativismo partidário burguês, está quebrada. O PSD está encostado às cordas de um ringue em que lutam dois pugilistas do mesmo clube. E tem levado tanta porrada, que caiu num silêncio sepulcral. E faz sentido. Faz sentido porque a actual líder do PSD, não tem argumentos políticos, ou sequer ideológicos, para rebater quem faz melhor a política que ela própria defende.

Poderia quase dizer, e não o faço para não me acusarem de veleidade verbal, que Manuela Ferreira Leite é a fã n.º 1 do Primeiro-Ministro. Só mesmo Sócrates consegue gostar mais do actual Primeiro-Ministro que Manuela Ferreira Leite.

Mais para a direita, o CDS, partido que funcionava como fiel, ou antes, aquele dedinho maroto com que a tal mão invisível das teorias capitalistas, empurrava inexoravelmente para a direita, os governos, evitando quaisquer veleidades de um Governo de Centro-Esquerda, não passa hoje de uma associação que reúne os clones do seu líder.

Faz lembrar aquelas associações norte-americanas de adoração a Elvis Presley, que aguardam eternamente o seu regresso. No CDS-PP aguarda-se desesperadamente que o líder clone, ou clone líder, atinja o cada vez mais longínquo lugar de Primeiro-Ministro.

Cruzes-canhoto que até se me arrepia a espinha toda só de pensar ... brrr! Afinal estamos perante o "partido da Lei e da Ordem".

Entretanto, e numa perspectiva de erosão do eleitorado social-democrata, tem acesso ao prime time dos noticiários televisivos.

À esquerda do PS, subsistem o PCP, com um historial inegável de luta pelos ideais que defende, e o Bloco de Esquerda, que congregou os desiludidos do PCP, os desiludidos da média burguesia intelectual, para além de pessoas que que, por opções legitimas, não se revêm no grosso da sociedade.

Estes dois partidos têm atenção diferenciada por parte do Governo, no que toca ao tratamento que recebem por parte do poder, designadamente por parte do Ministro da Informação e Propaganda, Santos Silva, que, vindo da extrema-esquerda, corre desalmadamente para o extremo oposto, candidatando-se, quiçá, a cartão de sócio no partido dos clones.

O PCP dificilmente consegue chegar a ser notícia, apesar de ser dos partidos com agenda política mais carregada (porque os há com agenda social com direito a tempo de antena), sendo o eterno ausente dos noticiários nacionais.

Já o Bloco de Esquerda, e na perspectiva de conseguir permitir ratar algum do eleitorado natural do PCP, tem acesso, particularmente o seu líder, às head lines dos noticiários nacionais.

No meio disto tudo os sindicatos, que conseguem mobilizar centenas de milhares de pessoas em jornadas de protesto contra as políticas do Governo, são menosprezados, ignorados e gozados despudoradamente pelo Primeiro-Ministro, em sucessivas demonstrações de arrogância soez com que nos brinda quotidianamente.

Estamos pois, num sistema que assenta na actividade político-partidária, com a particularidade de essa actividade não ser oficialmente reconhecida pelo poder, legitimado que foi pelo voto nos partidos políticos.

200 anos depois, aparece um mediocrezeco qualquer que afirma, a plenos pulmões, e para quem quiser ouvir que l´etat c´est moi (sem ser em francês, obviamente, algo que está muito para além das suas capacidades), e todos nós, seus ouvintes involuntários, ou não, assistimos, vemos, compreendemos e sentimos, e continuamos alegremente sem nada fazer.

Ah, como às vezes compreendo aquela malta da Índia e do Paquistão ...

Entretanto, e à falta de melhor alternativa, lá vamos, timidamente sussurrando, um Viva a República! que nos acalma a alma.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Feira de Castro Vai Manter-se Encerrado

Como disse aqui há uns dias, estava tentado a reactivar o Feira de Castro, e até lancei um repto aos frequentadores deste blog para manifestarem a sua posição quanto a essa intenção, muito embora, sem me sentir vinculado ao sentido do "voto" expresso.
30 dias passados, e participaram 21 votantes, em que um manifestou a sua oposição a tal reactivação, entre cerca de 2000 acessos que entretante se verificaram.

Sendo assim, e não tendo sido demonstrado um interesse que pudesse influenciar a minha decisão no sentido de ali voltar a escrever, vai o Feira de Castro permanecer quedo e sossegado, como um marco que ninguém consegue apagar pela importância que teve na blogosfera castrense partindo os pés de barro de alguns monstros sagrados cá do burgo.
Calhando, esta será uma das melhores notícias que dei a alguns barões que ainda por aí pululam.