segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dos Escrúpulos e da Falta Deles










O calor tem este efeito em muitas pessoas, até nas perigosas: madorna!



Não me apetecia escrever por duas razões: não me apetecia e estou sem computador há já uns dias (eis uma boa razão para tão pouca produtividade), e assim tive que pedir uma máquina "emprestada" e que vai ficar impregnada, porque não conspurcada, com o meu perigoso verbo.

Ando com esta do perigoso entalada na garganta.

Donde menos se espera vem algo que nos surpreende. Não, não é uma de M. de LaPalisse. Não me surpreende que me chamem nomes ou que insistam em colocar-me qualificativos, uns com piada outros nem por isso. Na blogosfera castrense, até hoje, só não me chamaram santo. O que me surpreende é donde veio esta do "perigoso", alguém que prima pela lucidez com que escreve os seus textos, e que nem sequer vou identificar, deixando ao passante a curiosidade de o procurar.

Bom. O tema de hoje são os escrúpulos.

Na política à portuguesa existem uns jargões que vieram para ficar e que se perpetuam no tempo, tornando-se em expressões tão reflexas como a tal dos "perigosos comunistas". Por exemplo, aquela da "democracia pluralista", ou a dos "partidos democráticos", ou a do "quero, posso e mando". São inúmeras as frases que se instalaram de mala e cuía no nosso "politiquez".

O nosso (vosso) Primeiro Ministro deu para andar a propalar outro jargão, o dos "escrúpulos democráticos".

O contexto: a oposição de direita lutou e conseguiu adiar para depois das eleições o lançamento dos concursos das grandes obras públicas que Sócrates gostava que fossem as do (seu) regime: aeroporto e TGV. O Governo começou por dizer que não, mas acabou por dizer que sim.

Mas, e aqui é que está o cerne da questão, apenas e só por "escrúpulo democrático". Será que, por mera oposição, existirá um escrúpulo ditatorial, ou anti-democrático? Fica a questão à qual creio não ter resposta plausível para o justificar.

Com a minha pouca experiência de vida, apenas gasta em pouco mais de 50% (espero eu) ensinou-me que escrúpulo consiste num comportamento cuidadoso, cautelar, de forma a evitar que se firam as normas legais e/ou sociais. Isto independentemente de conceitos pré estabelecidos de democraticidade ou de outra coisa qualquer.

Exemplo: existe falta de escrúpulo da parte de quem convida um artista de qualidade reduzida para animar um arraial, tocar umas modas para a pessoas bailarem no meio do pó?

Não vejo como, até porque não foi anunciado como um "serão cultural" e os presentes até dançaram e se divertiram.

Existe falta de escrúpulo quando uma candidatura convida, de uma forma mais ou menos coerciva, um grupo de cante alentejano para participar numa acção política de campanha?

Sim. Existe uma notória falta de escrúpulos (de qualquer categoria) da parte de quem fez o convite e de quem compactuou com esse facto, dado que constrangeu pessoas não apoiantes dessa candidatura a estarem presentes numa acção de campanha, travestida de serão cultural, de uma candidatura que não apoiam.

E essas pessoas foram porque tiveram escrúpulos, tiveram o cuidado de não criar uma cisão dentro de um grupo que celebra este ano 25 anos de actividade.

O candidato do Partido Socialista teve o mérito de juntar as mulheres que nos encantam com o seu cantar; este facto não lhe dá, a ele ou aos seus apoiantes, o direito de colocar o grupo numa delicada situação de opção apenas para mostar a sua obra, colocando em risco a sua continuidade.

Às vezes, os pedidos de desculpa servem para algo...

Posto isto, creio que deixo mais descansadas algumas almas alvoraçadas com a minha prolongada inactividade.