quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O Senhor do Adeus.

Morreu o "Senhor do Adeus"
"Morreu o "Senhor do Adeus"

por dn.ptHoje


João Manuel Serra morreu aos 79 anos. Ficou conhecido por cumprimentar toda a gente que passava na zona do Saldanha

João Manuel Serra, o "Senhor do Adeus", morreu ontem aos 79 anos. João ficou conhecido dos lisboetas por todas as noites acenar aos carros e às pessoas que passavam perto da zona do Saldanha, sempre com um sorriso estampado na cara e impecavelmente vestido.

Esta era a fórmula do "Senhor do Adeus" para afugentar a solidão. "Essa senhora é uma malvada, que me persegue por entre as paredes vazias da casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente", disse numa entrevista à revista "Única", do Expresso.

"Venho para a Praça Duque de Saldanha desde que fiquei nas mãos de não ter ninguém. Nasci aqui perto, na casa da minha avó. Um palacete bonito que o Calouste Gulbenkian quis comprá-lo. A vida dá estranhas voltas, o meu destino é acenar a quem me cumprimenta. Estou sujeito a que me chamem maluco, mas não me importo. Da minha solidão sei eu", acrescentou."

In http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1708177&seccao=Sul


Esta história abalou-me.

Sou lisboeta, nascido e criado.

Desde que, em boa hora, o meu agregado familiar optou por se radicar no Alentejo, a cidade onde nasci apenas me transmite um sentimento de nostalgia.

Nostalgia daquela Lisboa dos anos 70, uma urbe quase rural, em que muita gente se conhecia ou, pelo menos, em que não se tinha receio da pessoa que connosco se cruzava na rua.

Nostalgia daquela Lisboa, em que as pessoas, mesmo não se conhecendo, se cumprimentavam e comunicavam entre si a sua visibilidade.

Hoje Lisboa é um ninho de gente desconhecida, ansiosa pelo anonimato e tão egoísta que se esqueceu do mais simples gesto de sociabilidade.

Hoje, a notícia é a morte de alguém que, para afugentar a solidão acenava a quem passava, novos ou velhos.

Apenas porque passavam.

Nunca passei pelo João, pelo que nunca lhe acenei.

Aliás, nem sabia da sua existência.

Agora já sei.

Adeus, João.

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