segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Crise? Qual Crise???!

No princípio dos anos noventa, em pleno furor bolsista, em que os bancos emprestavam dinheiro, de uma forma absurda, para a especulação mobiliária, Cavaco Silva, então primeiro-ministro, foi à televisão e apenas disse isto: atenção, portugueses que investem na bolsa de Lisboa, não estejam a comprar gato por lebre.

Em resultado daquela declaração, que não com estas palavras, com aquele sentido, a Bolsa de Lisboa entrou em crash, e em resultado, alguns títulos nunca regressaram à pujança de então, até porque era resultado de meros movimentos especulativos.

Recordo que se estava no segundo terço desta fase do capitalismo neo-liberal, fortemente influenciado pelas teorias de Milton Friedman, que defendia a ausência de regulação estatal da economia, e que transmitiu a seu filho David Friedman, defensor do anarco-capitalismo que defende, pela via da ausência de regulação, a sucessiva privatização das actividades que são apanágio do Estado, até à privatização das áreas relativas à justiça e à segurança interna.

Onde é que eu já vi estas ideias serem postas em prática?

Foi um período que se iniciou nos anos oitenta, passando por diversos crashes, com o nascimento de off-shores por tudo quanto é lugar exótico e com estados fracos, e que nos conduziu à actual crise.

Esta é a mãe de todas as crises, que tornou obsoletos os manuais escolares no que toca à Depressão de 1929, que perde, de longe, o qualificativo de Grande, para ser apenas um sobressalto no caminho do sistema capitalista.

No entanto, aquilo que verificamos é que os estados optaram por intervir lançando no mercado aquilo que os detentores do poder económico, e primeiros responsáveis pela actual situação, mais gostam: DINHEIRO.

Trataram de apagar o fogo lançando gasolina para cima das chamas.

De facto, ao lançar no mercado biliões e biliões de euros, que entregaram aos bancos e aos grandes grupos que vão tratar do investimento público, sem estabelecerem as regras dos mercados de capitais e financeiros, que alegremente foram sendo afastadas e anuladas, estão a criar condições para que os grandes responsáveis consigam reforçar as fortunas cuja construção foi feita à custa das classes médias, e causadores do desastre para onde o mundo foi conduzido.

Assim, a injecção de capitais nos bancos, com o intuito de espevitar a actividade produtiva, deixando às entidades bancárias a liberdade de poderem extrair ainda mais lucro das suas actividades de crédito, poderá gerar, no futuro, resultados duvidosos e consequências perniciosas.

Entretanto, as classes médias vêem-se perante a situação caricata de, tendo suportado as medidas impostas pelas contenções orçamentais, verificam que, insuspeitadamente, os países têm dinheiro a rodos, estão agora a sofrer as consequências da crise e a ver, de antemão, quem vai suportar os custos futuros da situação actual.

É que, infelizmente, os pobres são os menos afectados pela crise, porque sendo pobres a situação pouco pode piorar.

Por seu lado, os detentores do capital, são os mais afectados, mas porque ainda vão ficar mais ricos e com mais poder económico que antes.

Imaginem só os juros da dívida dos estados aos bancos que avançaram com os empréstimos para os investimentos, quando voltarem à taxa normal, aquela que eles hão-de determinar, com os spreads que bem entenderem.

Creio que, e oxalá esteja enganado, que esta para além de ser a mãe de todas as crises, é também, apenas e só, a primeira de muitas que se seguirão, se não forem rapidamente corrigidos os erros do passado que a ela conduziram.

Digo eu...

1 comentário:

  1. por muito que me custe em termos pessoais acho que seria erste o momento ideal para apresentar alternativas a este mundo. Alternativas que se construissem sem dogmas e acima de tudo sem iluminados. um mundo para o mundo, um mundo para as pessoas. Infelizmente todos continuma presos ao passado, o corte abrupto e necessário com este paradigma económico só vai acontecer quando a turba de desesperados for de tal forma enorme que tudo invada. Sem ideologias, cartilhas ou dogmas económicos. Depois... depois não sei. mas que algo de novo iránascer das cinzas não tenho duvidas. Esperemos mais 7 ou 8 meses.

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