segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

António Costa - Excertos de uma Entrevista

Excertos da entrevista dada ao Diário de Notícias, publicada ontem, 14 de Dezembro de 2008


O número dois da câmara, o seu camarada Marcos Perestrello, já veio dizer que o PS está aberto a uma coligação de esquerda. Ela já existiu na Câmara de Lisboa. Acredita que será possível para as próximas eleições?




Digo-lhe duas coisas: o que é acho que era bom e no que acredito. Eu acho que uma solução que provou bem deve ser repetida. E, de facto, os anos em que foram governados pela Coligação por Lisboa, primeiro com o Jorge Sampaio e depois com o João Soares, foram bons para Lisboa. Tenho pena que tenha acabado e que, nas últimas eleições, nenhum dos partidos à esquerda tenha querido estabelecer qualquer entendimento com o Partido Socialista. Tenho-o dito: não serei eu a inviabilizar qualquer solução desse tipo.




Mas o calendário eleitoral tem eleições legislativas também, europeias.




O que tenho verificado é que o PCP, por motivos de política nacional, recusa sequer a abordagem do assunto. E que o BE, que vive uma relação algo infantil de competição com o PCP, também acha que não pode ter qualquer tipo de entendimento com o PS, se o PCP não tiver. Tendo chegado mesmo a esta situação absurda, que vivemos nos últimos tempos, de ter retirado a confiança política a um vereador independente, que tem vindo a exercer responsabilidades com base num acordo político que o PS assinou com o BE e que tem, reconhecidamente por toda a gente, feito um bom trabalho em prol da cidade.




Fala de José Sá Fernandes. Conta com ele para a lista que vai apresentar nas próximas eleições? Como se costuma dizer, em equipa que ganha não se mexe, se ele tiver disponibilidade para isso. Por mim, tenho tido uma excelente relação de trabalho com ele. Acho que José Sá Fernandes tem surpreendido muita gente, que possuía a ideia de que ele só tinha uma postura negativa de paralisar, de contestar, e tem-se revelado uma pessoa capaz de projectar, de dirigir serviços, de pôr obra em andamento. Portanto, se ele estiver disponível, se continuarmos a entender-nos sobre o que é necessário e prioritário fazer, acho que sim. Se não, paciência, não será. Mas espero que sim.




E isso é sempre à esquerda. Falava há pouco do que correu bem na coligação do PS com o PCP em Lisboa, por duas vezes, mas no Governo da República as coligações do PS foram sempre à direita, com o PSD e com o CDS. Em sua opinião, o que acha que impede que as esquerdas se unam para governar o País? Se é possível governar a maior câmara, porque é que, quando se chega, ao Governo isso não é possível?Não sei se é, foi! Constato agora que a nova orientação do PCP é contrária a coligações com o PS, mesmo ao nível local. Acho que há aqui um problema de fundo, que é o de saber se a esquerda quer simplesmente ser o contrapoder e a oposição à direita, ou se a esquerda quer assumir a capacidade e a consequente responsabilidade de governar. A esquerda de que faço parte é uma esquerda que não tem medo de assumir responsabilidades. A esquerda de que faço parte não quer viver da retórica nem da parasitação dos problemas, é uma esquerda que existe para resolver os problemas!Mas à esquerda da sua esquerda, acha que é assim que vivem os partidos políticos? O PC e o Bloco de Esquerda? Eu não sei se é à esquerda da minha esquerda, o que digo é o seguinte: constato que há partidos, e isso no Bloco é mais evidente ainda do que no PCP, que são alérgicos à assunção de responsabilidades. Porque é fácil, é cómodo ser simplesmente do contra. É fácil, é cómodo, estar simplesmente a criticar. O que é duro e dá trabalho é, efectivamente, meter as mãos na massa para resolver os problemas. E aquilo que acho absolutamente extraordinário é que, pela primeira vez, o Bloco tenha dado o passo de arriscar assumir responsabilidades de governo relevante num município como o de Lisboa e que, ao longo destes dois anos, parte dos que estão na Assembleia Municipal, desde o primeiro minuto estiveram, no fundo, sempre contra este acordo. Tudo fizeram para acabar por romper com o vereador Sá Fernandes. Mas eu devo-lhe dizer uma coisa: acho que isto é uma postura de impotência. Uma esquerda que acha que não é capaz de assumir responsabilidades de governo, é uma esquerda que se demite do seu papel e que confia o poder exclusivamente à direita. Isso eu não posso aceitar! Há milhões de cidadãos que partilham os valores da esquerda e que exigem que esses valores sejam postos em prática e sejam traduzidos em forma de governo e na resolução de problemas. E que não se resignam a que só a direita possa governar. Eu não partilho dessa resignação.




Comentário




António Costa vem reconhecer a total rendição de José Sá Fernandes ao PS, ao mesmo tempo que deixa no ar a responsabilidade do Bloco de Esquerda na não renovação da coligação de esquerda na Cãmara, em 2007.




Quanto à não assumpção de responsabilidades governativas, creio que Costa está a confundir princípios com lugares. É que há quem não abdique dos primeiros para ter os segundos.




O Bloco de Esquerda experimentou e, creio, não gostou.




Mas que é possível conjugar os princípios do PS, BE e PCP, pelo menos a nível local, lá isso é. Haja vontade e empenho, com respeito mútuo pelas posições de cada um e chegam lá.




Entendam-se, pôrra!!!


9 comentários:

  1. por cá parece que o eterno candidato a candidato que disse não ser candidato... afinal é

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  2. Parece que tenho um dedo que adivinha.

    Apenas se confirma que em política, o mais das vezes é falar pelo contrário daquilo que se pretende.

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  3. Nada tenho contra a pessoa em causa, antes pelo contrário, apenas tenho que reconhecer a sua postura pessoal e profissional.

    Mas, em termos políticos, estamos em campos opostos, e a confirmação prevista para amanhã, apenas me transmite o ânimo necessário para me empenhar activamente no combate eleitoral que se adivinha.

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  4. Era algo preparado á já algum tempo. Castro Verde sempre sonhou com pessoas consensuais, o candidato em causa cabe inteiramente nessa visão. Idos os anos do cacetismo e aproveitando algumas visiveis debilidades na força que tem governado o municipio, eis que finalmente alguém entende ser chegada a sua hora. Vamos ver a resposta, que ou muito me enGano ou vai ser, ela sim, uma surpresa.
    esperemos

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  5. Não me digam que é a Luísa Mesquita??!!??
    http://videos.sapo.pt/koeUbOHzQfSdibGFg5Jv

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  6. A democracia é para os democratas. Se ilegalizam a extrema-direita, ilegalizem o PCP. Já não há paciência no seculo 21 para anti-democratas, de pouca inteligencia e muito seguidismo imbecil.

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  7. Carissimo Caneleiras de Cortiça

    Não lhe ficam nada bem certo tipo de comentários.

    Dada a postura cívica e humana do anunciado candidato, espera-se que os seus apoiantes não enveredem por uma deriva trauliteira.

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  8. Estimado João Nuno Sequeira:
    Não tome uma provocação inocente como uma atitude trauliteira.
    Trauliteira seria se andasse por aí a distribuir Magalhães nos cornos de alguém, não lhe parece?
    Não ligue muito ao civismo e humanismo dos apoiantes do anunciado candidato, porque ninguem muda por ter sido feita uma conferencia de imprensa. Nem o candidato para pior, nem os apoiantes (falor por mim) para melhor.
    Cumprimentos Castrenses

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  9. Caro Caneleiras de Cortiça

    Touché.

    No entanto, creio, que confundir um desabafo com atitude trauliteira é bastante mais forçado que comparar um provocação inocente com uma atitude trauliteira.

    Mas tudo bem. Não é por aí que o mal vem ao mundo.

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