quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Cidadania e Poder Local


O Bloco de Esquerda Promove, no Domingo, 9 de Novembro, em Castro Verde, no Fórum Municipal, o Primeiro Encontro Autárquico do Distrito de Beja, que contará com a participação de Alberto Matos e Francisco Louçã, subordinando-se ao tema: Cidadania e Poder Local.

Programa em http://beja.bloco.org/

2 comentários:

  1. O encontro é aberto ao público?
    É possivel ter aqui o programa?
    Nesta democracia já será possivel assistir a iniciativas de qualquer formação política, sem depois vir a ser conotado com as mesmas?

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  2. E que dizer deste artigo?...

    CLARA FERREIRA ALVES, ATERRADORA...

    A justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca -
    Clara Ferreira Alves - Expresso


    Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito
    maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com
    isso apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do
    encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita
    e pacata desordem existencial, acham tudo 'normal' e encolhem os ombros.

    Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto
    final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais
    inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir
    nada.

    Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada
    acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é
    definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.

    Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi
    crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso
    Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o
    que verdadeiramente se passou nem quem são os criminosos ou quantos crimes
    houve.

    Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de
    enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a
    verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é
    uma coisa normal em Portugal e que este é um país onde as coisas
    importantes são 'abafadas', como se vivêssemos ainda em ditadura.

    E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este
    estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos
    computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao
    maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando
    nunca vir a saber com toda a naturalidade.

    Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas
    ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da
    Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica,
    da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a
    Isaltino Morais, da Braga parques ao grande empresário Bibi, das queixas
    tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que
    acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados,
    muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente
    punidos?

    Vale e Azevedo pagou por todos.

    Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de
    Leonor Beleza com o vírus da sida?
    Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num
    parque aquático?
    Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos
    crimes imputados ao padre Frederico?

    Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre
    Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?
    Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça
    foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

    Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e
    enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.
    No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível,
    alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar
    alguém?

    As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da
    criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia
    espalha rumores e indícios que não têm substância.
    E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as
    crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?
    E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns
    menores, onde tanta gente 'importante' estava envolvida, o que aconteceu?
    Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

    E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela
    reconheceu imensa gente 'importante', jogadores de futebol, milionários,
    políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

    E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros
    do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára? O
    mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por
    causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

    E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado
    doentes por negligência? Exerce medicina?

    E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de
    colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é
    surda, muda, coxa e marreca.

    Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são
    arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao
    esquecimento.
    Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

    Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram
    as redes e os 'senhores importantes' que abusaram, abusam e abusarão de
    crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos
    sobre meninas ficaram sempre na sombra.

    Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de
    protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências e
    reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

    Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

    Clara Ferreira Alves - 'Expresso'

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