sexta-feira, 4 de julho de 2008

No País do Faz-de-conta

Li hoje que o consumo de pão decresceu cerca de 20%, no último ano, e 50% nos três últimos anos.

Como é sabido, o pão é um alimento base do regime básico alimentar básico mediterrânico, e, como tal, esta informação constitui um sinal de que a vida está mesmo pelas horas da amargura.

Diga-se de passagem que esta informação não vai ao encontro da entrevista do Sr Sócrates, na passada 4.ª Feira, em que, no final da mesma, me questionei se aquele senhor eram mesmo o Primeiro Ministro deste país, tal era o cenário cor-de-rosa por ele pintado.

Dessa entrevista tirei suas conclusões:

1º Tudo de mal que os portugueses sentem na pele, é a bem do país; tudo o que ele acha que é positivo, acontece por seu mérito.

2.º O senhor não é arrogante, e considera a opinião dos portugueses que se manifestam nas ruas, mas ainda considera mais as suas próprias opiniões, pelo que ignora a dos outros.

Voltando ao pão.

Alguns jornais aventam, designadamente o DN, outra palavra não se aplica, a hipótese de tal redução no consumo se dever ao aumento do consumo de máquinas domésticas de fazer pão.

Esta faz lembrar aquela célebre estória, que não sei se é verdadeira, segundo a qual, quando o povo francês, nos idos do séc XVIII, se manifestava em Versalhes, Maria Antonieta terá perguntado a razão do descontentamento, ao que alguém lhe respondeu: O povo não tem pão para comer, Alteza.
A Rainha terá retorquido: se não tem pão, porque não como brioche?.

Por cá, aparentemente, alguns jornalistas entendem que deixou de se comprar pão para comprar as máquinas que o fabricam.

Enfim, parece que por cá vivemos num país de faz-de-conta.

Falta saber em qual deles: no do Primeiro Ministro ou no dos Jornalistas.

1 comentário:

  1. Escrito em 1896 por Guerra Junqueiro
    "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]
    Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
    Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
    A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
    Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

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