sexta-feira, 4 de julho de 2008

Maria Filomena Mónica Desanca Valter Lemos

Maria Filomena Mónica escreveu, na edição de hoje do Público, um artigo de opinião, intitulado "Os testes de Português podiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola" , acerca dos Exames Nacionais de Português do 12.º, em que, pura e simplesmente, arrasa a política do Ministério da Educação, nomeadamente em matéria de avaliação, apontando directamente o dedo a Maria de Lurdes Rodrigues e a Valter Lemos.

Devido à extensão do artigo, apenas transcrevo alguns excertos, mais políticos, aconselhando, vivamente, a leitura integral do texto, em http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1334392&idCanal=58

"A responsabilidade pelo desastre – porque é de um desastre que se trata – deve ser atribuída a quem ocupa o poder, isto é, em primeiro lugar, a Maria de Lurdes Rodrigues, uma ministra cujo objectivo passou a consistir em baixar o insucesso escolar por via burocrática. Qualquer dia até o meu neto, de seis anos, é capaz de responder satisfatoriamente às provas do final da escolaridade. Uma vez que já sabe escrever o seu nome e que responde prontamente a quem lhe pergunta quanto são dois mais dois, penso que não vale a pena matriculá-lo na 1ª classe, deixando-o no recreio até aos 15 anos, altura em que se poderá apresentar a exame como aluno externo. Nem a família terá de se dar à maçada de o levar à escola nem o Estado será forçado a gastar dinheiro com a sua educação. Aliás, foi isso que, após ter realizado o exame de Português, nos disse Felipe Hasslocher: “Não estudei; a Português ou se sabe ou não vale a pena estudar” ("Diário de Notícias", 19-06-2008). De facto, é assim: ou se aprende em casa ou não vale a pena ir às aulas."

"Faltava-me ler, com atenção, as instruções que o Ministério enviou aos professores encarregues de corrigir os exames. Escolhi o caso do exame de Português do 12.º ano. O que vi – quadradinhos com “níveis de desempenho”, listas com os “cenários de resposta” e grelhas com a “correspondência correcta” – deixou-me estarrecida. É certo que as instruções foram transcritas pelos jornais, mas, desacompanhadas dos exames, o leitor não tinha oportunidade de se aperceber da monstruosidade do esquema."

"Demorei-me a analisar este texto porque, de entre todos – e como viram a escolha não é fácil – foi o que mais me escandalizou. Deste novo mundo, labiríntico, burocrático, totalitário, desapareceu a autonomia dos docentes, o dever de julgar e até o estímulo para separar os alunos marrões dos criativos. Se as perguntas de escolha múltipla já me tinham irritado, mais furiosa fiquei ao ver que o método era aplicado ao que antigamente se chamava uma redacção. Em grande medida, estas loucuras derivam da filosofia de avaliação expressa na obra de Valter Lemos, "O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem" (1986)."

"Se isto choca nas chamadas Ciências Exactas, o facto é, nas Humanidades, uma anormalidade, uma vez que analisar um texto literário não é o mesmo que resolver um problema de Química. Nos anos 1960, a crítica literária teve de se defrontar com o marxismo e, depois, e em rápida sequência, com o estruturalismo, o post-modernismo e a semiótica, correntes demasiado exotéricas para que delas possa, ou queira, falar. A partir de então, a crítica literária foi tida como uma espécie de ciência. Tudo ficou de pernas para o ar, não me devendo eu espantar que a Língua Portuguesa tenha sido separada da História da Literatura nem que a análise do texto o seja dos respectivos autores. A coroar o disparate, o ministério optou por elaborar exames cujo objectivo é escamotear o facto de estarmos a formar uma geração incapaz de pensar, de falar e de escrever."
"À volta da elite burocrática sediada no Ministério da Educação, existe hoje um enxame de “especialistas” que determina o que é, ou não, “correcto”. Os exames que elaboram poderiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola, nos quais os alunos fariam ao acaso umas cruzinhas, sendo estas posteriormente contadas por uma máquina. O actual secretário de Estado da Educação e os seus anões não pertencem à tradição humanística que fez a glória da cultura ocidental, mas a uma corrente pedagógica que vê o aluno como um robot e o professor como uma máquina registadora. O Português não é a sua pátria."

2 comentários:

  1. M.F.M. apenas diz o que todos já sabiamos, mas é importante que se DIGA:
    ESTE PAÍS É GOVERNADO POR IMBECIS ELEITOS POR IMBECIS

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  2. Sagher os patos bravos que por aí há eleitos, gaspilhando os escassos recursos, muitas das vezes sem qualquer sentido de responsabilidade, não vão apreciar o teu comentário. mas reconheçamos que maioritáriamente é mais que correcto.

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