quarta-feira, 14 de maio de 2008

Tejo Que Levas As Águas

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar


Lava-a de crimes espantos
de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores

Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas
Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro


Lava palácios vivendas
casebres bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar


Lava avenidas de vícios
vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais


Afoga empenhos favores
vãs glórias, ocas palmas
leva o poder dos senhores
que compram corpos e almas


Leva nas águas as grades
...


Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo
rostos corpos destroçados
lava-os com sal e iodo


Tejo que levas nas águas
...




Poema de Manuel da Fonseca, magistralmente musicado e interpretado por Adriano Correia de Oliveira.




Pela sua actualidade e pertinência, terá sempre lugar de destaque neste blog

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