terça-feira, 3 de março de 2009

Demagogia

demagogia

do Gr. demagogía, arte de conduzir o povos. f.,

governo ou actuação política pautada pelo interesse imediato de agradar às massas populares, com o fim de alcançar o poder ou de o manter;
situação política em que o poder é abandonado às multidões.





Demagogia

Dão nas vistas em qualquer lugar
Jogando com as palavras como ninguém
Sabem como hão-de contornar
As mais directas perguntas

Aproveitam todo o espaço
Que lhes oferecem na rádio e nos jornais
E falam com desembaraço
Como se fossem formados em falar demais

Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira

P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral

Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total
Desde o último até ao primeiro
Vão-se curar em banquetes, numa social

Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira

Letra e música de Luís Pedro Fonseca
Álbum Perto de ti, Lena d’Água 1982

1 comentário:

  1. Porque a demagogia também tem a sua conta,e porque é dia internacional da mulher, deixo-vos este poema da grande Natália Correia

    Queixa das almas jovens censuradas

    Dão-nos um lírio e um canivete
    e uma alma para ir à escola
    mais um letreiro que promete
    raízes, hastes e corola

    Dão-nos um mapa imaginário
    que tem a forma de uma cidade
    mais um relógio e um calendário
    onde não vem a nossa idade

    Dão-nos a honra de manequim
    para dar corda à nossa ausência.
    Dão-nos um prémio de ser assim
    sem pecado e sem inocência

    Dão-nos um barco e um chapéu
    para tirarmos o retrato
    Dão-nos bilhetes para o céu
    levado à cena num teatro

    Penteiam-nos os crânios ermos
    com as cabeleiras das avós
    para jamais nos parecermos
    connosco quando estamos sós

    Dão-nos um bolo que é a história
    da nossa historia sem enredo
    e não nos soa na memória
    outra palavra que o medo

    Temos fantasmas tão educados
    que adormecemos no seu ombro
    somos vazios despovoados
    de personagens de assombro

    Dão-nos a capa do evangelho
    e um pacote de tabaco
    dão-nos um pente e um espelho
    pra pentearmos um macaco

    Dão-nos um cravo preso à cabeça
    e uma cabeça presa à cintura
    para que o corpo não pareça
    a forma da alma que o procura

    Dão-nos um esquife feito de ferro
    com embutidos de diamante
    para organizar já o enterro
    do nosso corpo mais adiante

    Dão-nos um nome e um jornal
    um avião e um violino
    mas não nos dão o animal
    que espeta os cornos no destino

    Dão-nos marujos de papelão
    com carimbo no passaporte
    por isso a nossa dimensão
    não é a vida, nem é a morte

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