
Passadas que estão as Festas da Vila ´08, e o Abrunhosa se retirou após a sua grande exibição, levando consigo os seus óculos escuros, é tempo de ler com óculos de ver ao perto as palavras do auto-suspenso Presidente da Câmara, em "viagem" até Évora, na entrevista que concedeu ao Director do Correio Alentejo, António José de Brito.
É uma entrevista engraçada de se ler, com tempo, e nas entrelinhas diz muito mais que em todas as palavras que a compõem.
Transcreve-se a entrevista quase na íntegra, dixando para outras núpcias a parte respeitante à "polémica do lar".Se eu fosse presunçoso, o que a minha religião proíbe terminantemente, diria que o guião da entrevista foram as questões que, desde há um ano a esta parte, tenho vindo a levantar na blogosfera. Como não sou, digamos que o Directos do Correio do Alentejo tem dúvidas semelhantes às minhas.
Acerca da Cavandela
Correio Alentejo (CA): "O cidadão comum é muito céptico em relação a estes investimentos."
Fernando Caeiros (FC): "É uma atitude compreensível por parte do cidadão comum, dado o conjunto de projectos desta natureza que foram anunciados ao longo dos anos e não foram concretizados. (...). Nós, o que preconizámos em termos de programação da execução foi no sentido de ser dada alguma prioridade à componente agrícola e hoteleira, aquela que é mais vincadamente turística. Isto quer dizer que durante 2009, o promotor terá de apresentar o projecto de execução da unidade hoteleira, por exemplo."
CA: "O cepticismo faz sentido face à grande dimensão do projecto?"
FC: "É uma dimensão grande mas o projecto será desenvolvido durante década e meia. Por outro lado eu não sinto que haja tanto cepticismo assim."
CA: "Faz sentido criar um parque empresarial junto a uma unidade turística?"
FC: "Na nossa opinião faz todo o sentido e, em termos de programação, considerámos que essa deve ser uma etapa prioritária no plano. Não poderá ser relegada para 20015 ou depois. Tem de entrar logo no início da programação. E admitimos até que possa ser desenvolvida uma parceria público-privado para acelerar esse processo do parque empresarial."
CA: "Que actividades vão ser localizadas ali?"
FC: "O que se pretende é a instalação de serviços a empreendimentos desta natureza. E chamo a atenção que a propriedade onde assenta o empreendimento está fisicamente separada da zona empresarial pelo ramal ferroviário de Neves-Corvo. Por outro lado, haverá uma regulamentação específica no sentido de que só acolherá actividades compatíveis com os usos adjacentes."
Comentário:
Perceberam? Eu também não.
Por um lado é normal o cepticismo, mas afinal não há assim tanto como isso.
Para combater o cepticismo, dá-se prioridade à componete agrícola e turística e, também, à empresarial.
Recorre-se a parcerias público-privadas, para o parque empresarial. Mas isto não é, na prática uma parceria público-privada?. Então a zona empresarial não era uma contrapartida? Ainda por cima, uma zona empresarial dedicada a serviços a prestas a actividades relacionadas com, subentende-se, o complexo adjacente.
Começo a perceber: a zona empresarial, que é uma contrapartida do promotor ao Município, afinal é um elemento de suporte do complexo que o promotor vai explorar, e, ao mesmo tempo, vai escoar a produção da componente agrícola. Boa contrapartida para o ... promotor, obviamente.
Já agora uma perguntinha: muito antes de se olhar para a Cavandela como a galinha dos ovos de ouro, Castro Verde debatia-se com a falta de uma zona de actividade económicas. Para onde vai isso? Não me digam que vã plantá-la no meio de uma qualquer nova urbanização como fizeram com o edifício da Associação de Agricultores.
Aliás isto é a prova de que duas coisas tão diferentes podem viver em conjunto: os do Bairro dos Bombeiros têm o armazém separado das casas por uma estrada; os turistas da Cavandela estão separados do parque industrial pela linha do comboio.
Não compliquem as coisas.
Os Impostos da Somincor
CA: "Castro Verde tem um território fácil e uma mina que paga bons impostos. São vantagens que, terá de reconhecer, muito importantes para o concelho face a outros da região?
FC: "Há aqui vários factores. Os impostos têm algum peso, não direi que não tenham. Mas em 20 anos de actividade, a Câmara recebeu impostos 5 ou 6 anos. Não me parece que seja o mais determinante de tudo. Os fundos comunitários, por exemplo, Têm um peso muito mais expressivo do que a Somincor."
CA: "Mas comparativamente com outros concelhos, os impostos da Somincor têm sido muito importantes."
FC: "Sim, está bem. Mas há aqui mais de duas décadas em que não houve receitas nenhumas pela via da Somincor. Mas devemos ter presentes vários factores. Castro Verde tem a melhor posição geográfica do distrito de Beja e tem, por exemplo, as melhores acessibilidades da região. Por outro lado, não deve ser desprezada a estabilidade política local, porque ajuda e dá confiança. Sente-se estabilidade e a autarquia conseguiu nestes anos uma boa capacidade de diálogo e até de parceria com entidades e interesses contraditórios. Isso é uma verdade inegável."
Comentário:
Não respondeu a nenhuma das perguntas.
Enalteceu a sua obra, que tem os seus méritos, obviamente. Daí a negar a importância dos montantes entrados nos cofres municipais, oriundos da derrama da Somincor, já é uma abuso.
É óbvio que a verbas comunitárias são extremamente importantes. Mas essas verbas apenas cobrem parte dos investimentos a que se destinam. O resto tem que ser posto pela autarquia. E, aí, venham dizer que não pesaram os dinheirinhos da Somincor.
Adorei a segunda resposta, aquela da excelente localização e coiso e tal. Mas quantas empresas é que se localizaram aqui por via desse facto? O Centro de Inspecções? No meio de uma zona urbana? Fixe.
O final do parágrafo, então, está sublime. Abstraiam-se de quem proferiu estas palavras. Agora imaginem o Primeiro Ministro a dizê-las, a louvar a maioria absoluta, a concertação (social) de interesses contraditórios. Porreiro, pá!
Finanças Municipais
CA: "Qual é o quadro financeiro da Câmara neste momento?"
FC: "Traduzido em números, se a Câmara tivesse de pagar a quem deve, não teria dívidas de curto prazo. Ficaria só com os empréstimos à banca. Por outro lado, temos a capacidade de endividamento liberta acima de 60% e um prazo de pagamentos inferior a 60 dias. Posso dizer que, quando sair da Câmara, vou deixar nos cofres dois milhões de euros a render.
Comentário:
Pagam-se as dívidas de curto prazo, as tais dos 60 dias de pagamento, e ainda ficam por pagar os empréstimos, que se saldam acima dos 30% da capacidade de endividamento.
É assim que quem gere a coisa pública deve pensar: já pedi emprestado um terço daquilo que posso pedir, e não, ainda posso pedir dois terços daquilo que me é permitido pedir.
Portanto, o dois milhões que ufanamente anuncia que ficam a render, pagam as dividas de curto prazo, e ficam por pagar os milhões de médio e longo prazo.
Depois de receber milhões, três anos seguidos, ficar satisfeito com este resultado é, por assim dizer, um bocado triste, mas enfim.
O MAD concerteza nos poderá elucidar do montante dos empréstimos a pagar, já que o entrevistado o não quis fazer.
Rede Viária Municipal
CA: "Falemos da rede viária municipal. Não acha que há debilidades e promessas por cumprir?"
FC: "Sob o ponto de vista das necessidades , circulação e segurança das pessoas e da actividade económica, temos uma rede que corresponde às necessidades. Admito que gostaríamos de ter uma melhor qualidade de pavimento nas estradas Castro Verde - Casével e Castro Verde - Santa Bárbara de Padrões."
CA: "Entre Castro Verde e Santa Bárbara, sendo uma via de acesso a Neves-Corvo, não devia haver outra atenção?"
FC: "Nunca deverá ser a principal via de acesso ao complexo mineiro. Essa via deve servir para circulação estritamente interna, entre freguesias."
CA: "Mesmo para isso está muito má"
FC: "Reconheço que é uma estrada que carece de alguma melhoria ao nível do pavimento e do percurso transversal. Precisa de um alargamento de sensivelmente um metro da faixa de rodagem e de um pavimento mais moderno."
CA: " Quando vão ser feitas essas obras?"
FC: "A Câmara está a preparar o lançamento da empreitada para o percurso entre Santa Bárbara e Neves-Corvo. E teve um concurso para beneficiar o trajecto de Castro Verde até Santa Bárbara, mas não está em condições de poder adjudicar a obra porque as propostas não reuniam as condições. Em princípio vamos ter que fazer novo concurso."
Comentário:
Até que enfim Fernando Caeiros admite, por escrito, que a estrada de santa Bárbara necessita de ser intervencionada, sem ter que fazer uma auto-estrada. Mas, ainda assim, está difícil de aceitar bem a coisa.
Não tive conhecimento do lançamento de qualquer concurso de empreitada pra o troço referido, mas até admito que tenha passado. O incrível é o troço até Neves Corvo avançar primeiro que o troço até Santa Bárbara.
Recordam-se que a população de Santa Bárbara deixou cair a estrada até Castro Verde para ter um Lar? Pois então parece que, tem o Lar e o troço até Neves Corvo, de brinde.
Não que discorde, porque, contrariamente ao auto-suspenso Presidente, eu acho que, sendo uma via de ligação a Neves Corvo, aquela via tem que ser intervencionada, ainda para mais com a abertura do poço do Lombador.
O que se lamenta é o diz não diz até dar a mão à palmatória.
No fim disto tudo, fica-se a saber que as duas vias municipais com relevância, Casével e Santa Bárbara, carecem ambas de intervenções profundas no traçado e no pavimento.
Mas, apesar de tudo, satisfazem as necessidades.
Eleições Autárquicas de 2009
CA: "Porque é que decidiu aceitar o convite para representar os municípios na gestão do QREN?"
FC: "Confesso que, quando me foi feita uma sugestão para admitir essa possibilidade, disse que não e disponibilizei-me para ajudar a encontrar algum consenso entre municípios. Penso que é um pouco desajustado partidarizar esta situação e temos de fazer um esforço para ser o máximo consensuais quando estão em causa questões relevantes para o Poder Local no seu conjunto."
CA: "Terá de concordar que existe a ideia de que foi encontrada uma porta nobre para a sua saída da Câmara?"
FC: "Não se pode dizer que tenha sido uma oportunidade para a minha saída. É uma situação que, sob o ponto de vista pessoal, acabei por considerá-la como interessante enquanto mais um contributo para afirmar o Poder Local, agora num outro nível de responsabilidade. Em termos pessoais, honra-me o facto de poder ser, de alguma forma, o representante da Associação Nacional de Municípios Portugueses e de toda a área do Alentejo e da Lezíria.
CA: "O que é que representa para si, em termos sentimentais, sair da Câmara ao fim de 31 anos e meio. Deixar este gabinete, estas pessoas..."
FC: "O tempo o dirá! Foi uma vida inteira, nestes espaços com estas pessoas. Isto não é o Presidente e os funcionários. Somos um grupo de companheiros, grande, que fazemos disto o nosso dia-a-dia. Certamente que se irá sentir uma mudança grande na vida de cada um de nós ..."
CA: "Sentia falta de mudar de vida?"
FC: "Em tudo na vida é assim. Um dia acontecem-nos estas coisas e, no que respeita à vida autárquica, eu acho que as coisas não podem durar mesmo muito mais tempo. A gente nunca sabe o que pode acontecer amanhã, porque não adivinhamos o futuro. E não podemos cercear o nosso dever cívico, de poder ser concorrentes ou não, em eleições autárquicas ou noutras quaisquer. É um direito que nos assiste e que podemos usar em qualquer momento. Mas isto nas autarquias é como em qualquer outra actividade ... Eu lembro-me daquele toureiro com quarenta e tal anos que andava diante das vacas e não havia nenhuma que não lhe desse uma marrada! Devia-se ter retirado dentro do tempo ...
Aqui na vida autárquica existem ciclos e este está a aproximar-se do fim.
CA: "Exclui a possibilidade de regressar?"
FC: "O dia de amanhã ninguém abe, mas não estou claramente orientado nesse sentido."
CA: "E ser candidato à Câmara em 2009?"
FC: " Também não perspectivo que tal possa acontecer."
CA: "Sabe que a CDU em Castro Verde vai querer que seja o candidato"
FC: "A CDU tem muita gente capaz de assumir uma candidatura. Só uma alteração política da própria CDU é que poderá ser mais perniciosa para a CDU local do que propriamente a minha saída."
CA: "É o PCP que está a impor esta saída para renovar a equipa?"
FC: "A questão de haver mudanças em Castro Verde no próximo mandato foi anunciada por mim próprio."
CA: "E que alternativas aponta?"
FC: "Há sempre meia dúzia de candidatos possíveis. Com a minha saída vai ficar constituída uma equipa na Câmara de malta "porreirinha", desculpem esta expressão, e gente capaz de fazer andar isto bem."
Comentário:
Isto resume-se assim:
FC vai para Évora, mas quando quiser volta, e se quiser, volta a candidatar-se, porque o jornalista assim o disse.
É bom que o PCP esteja quietinho, não tente tomar a CDU de assalto, porque senão a coisa azeda, e os independentes candidatam-se por outras vias.
Portanto, ficam cá os guardiães do templo, conhecidos pelos "Porreirinhos Squad", que eu alvitro sejam estes: M. F., Sr. N., P. E., M. R., N. P., A. C. (nomes de código dos "porreirinhos").
Portanto, o actual Presidente e o seu Vice, podem ir já fazendo as malinhas, que no próximo mandato...